Através de notícia interessante e bem ilustrada, a BBC anunciou as mais recentes descobertas de uma missão arqueológica subaquática em busca dos vestígios da armada persa enviada pelo rei Dario contra a Grécia no séc. V a.C.. Dois capacetes, uma base de lança persa e algumas ânforas foram encontradas no ano passado nas profundezas do Mediterrâneo, ao largo do Monte Athos (Norte da Grécia), onde decorreu um dos maiores naufrágios em série da História ocidental. Estes artefactos estavam associados a um navio afundado assinalado pela expedição, ao qual se junta outro naufrágio cuja localização foi obtida mediante informações de um pescador local.
O episódio ficou na História pela magnitude do poder naval envolvido e pela tragédia que o aniquilou. Em 492 a.C., tendo sido reunido um efectivo colossal de muitas centenas de navios, as hipóteses de defender as cidades gregas antigas pareciam ínfimas. Mas a Natureza equilibrou os pratos da balança sob a forma de uma enorme tempestade que afundou em pouco tempo a maior parte dos navios persas. Cerca de 20.000 homens e 300 navios foram engolidos pelas ondas, segundo o historiador grego Heródoto.
Esta não era a primeira tentativa de invasão da península grega. O grande rei Xerxes, antecessor de Dario, organizou uma mega-expedição de 1.207 navios provenientes dos mais variados portos do Império Persa no ano de 480 a.C., que acabou por conhecer o mesmo desastroso destino, sendo destroçada pela fúria dos elementos.
O "Persian War Shipwreck Survey"
O projecto resulta da colaboração entre o Instituto Canadiano de Arqueologia de Atenas e o Serviço de Arqueologia grego. Katerina Dellaporta, do "Euphorate of Underwater Antiquities" (Grécia) e Shelley Wachsmann (do Instituto de Arqueologia Náutica, da Universidade do Texas A&M) lideram esta investigação. O relatório preliminar da última missão, que cartografou uma área de 170 quilómetros quadrados com a ajuda de um sonar de varrimento lateral, pode ser consultado aqui.
A expedição regressará ao local das desobertas no próximo mês de Junho para prosseguir as pesquisas. Aguarda-se a hipótese de se poder descobrir algo de nunca visto até hoje: vestígios estruturais suficientes para uma reconstrução náutica fiel de uma galé trirreme, navio de guerra clássico mas que, devido ao pouco lastro no seu interior, raramente se afundava. Mesmo os pesados esporões de bronze com que se armavam as proas das galés desprendiam-se após a abordagem da embarcação inimiga e desapareciam no fundo do mar. Um raro exemplar de esporão, encontrado em 1980 na costa israelita de Athlit, conserva-se hoje no National Maritime Museum, em Haifa.
Réplicas de trirremes como a «Trieris» ou a «Olympias» (aqui, um pormenor do encaixe do esporão à proa) ajudam a perceber as capacidades náuticas e militares dos navios da Antiguidade, mas têm sido baseadas quase exclusivamente em vestígios iconográficos. As grandes galés de guerra da Antiguidade continuam a ser navios-fantasma para os arqueólogos náuticos.
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