quinta-feira, janeiro 22, 2004

O Afundamento de Veneza

Os Problemas
Longe vão os tempos em que a outrora Sereníssima República de Veneza reinava no Mediterrâneo da Idade Média e Renascimento. Hoje, a magnífica cidade lagunar sofre de um problema endémico, agravado nas últimas décadas do séc. XX. As águas por onde navegaram durante séculos as grandes galés e naus mercantes e os canais onde a Cidade desposava o Mar em grandiosa cerimónia anual são hoje uma fonte de perigo, contaminadas pelo aumento do nível do mar, a constante erosão e poluição que ameaçam a pérola do Adriático.

De tal maneira que, nos últimos 30 anos, a natureza única do caso de Veneza, englobando a gestão da laguna onde se situa e a protecção da cidade deu lugar a um conjunto excepcional de leis, começando com a Lei Especial n.º. 171/73, estabelecendo a salvaguarda de Veneza como assunto de "interesse nacional prioritário".

A Solução?
De acordo com a conceituada revista "Nature", uma equipa de engenheiros geo-mecânicos da Universidade de Pádua propôs novos meios para concretizar um projecto da década de 1970, de forma a evitar o problema do afundamento gradual da famosa cidade do Adriático. Utilizando tecnologia própria da indústria petrolífera, seria possível injectar dióxido de carbono ou água do mar alojando-os directamente na base geológica das ilhas de Veneza, a uma profundidade de 600 a 800 metros. Esta camada de enchimento artificial permaneceria presa entre um nível inferior de argila e outro superior de rocha impermeável. A utilização progressiva destes meios por um período de 10 anos permitiria uma elevação média do solo Veneza em 30 centímetros.

As cheias que submergem regularmente grande parte das ilhas devem-se, segundo os estudos do "Consorzio Venezia Nuova" (entidade pública responsável pela protecção de Veneza), à subida do nível do mar provocada pelas recentes alterações climáticas, assim como à sobre-extracção de águas subterrâneas que resultaram em alterações geológicas.

Algumas das medidas propostas para solucionar este problema consistem na elevação dos pavimentos nas áreas de cota mais baixa e a controversa construção de uma enorme barreira móvel anti-cheia denominada MOSE (Modulo Sperimentale Elettromeccanico), cujos portões se fechariam em momentos de grande alteração dos níveis de água. Estimado em cerca de 3 bilhões de Euros, esta estrutura gigante só deverá entrar em funcionamento em 2011, mas a previsível subida do nível do mar poderá torná-la ineficaz dentro de 100 anos. Os testes geológicos e geofísicos irão iniciar-se em breve.

Uma corrida contra o tempo para evitar que a magnífica cidade se torne um dia numa relíquia subaquática.

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