Os Botos de Laguna
Um caso exemplar de benefício mútuo utilizando as capacidades naturais do Homem e dos animais em meio marítimo que perdurou até aos nossos dias.
Em Laguna, no Sul do Brasil (Estado de Santa Catarina), pescadores "tarrafeiros" e golfinhos nariz-de-garrafa (Tursiops Truncatus), conhecidos localmente por "botos", pescam juntos. Na junção das lagoas locais e da foz do Rio Tubarão, num canal que desagua no Atlântico, a água é escura impedindo os nativos de verem os peixes, mas os golfinhos encontram-nos facilmente através do seu órgão emissor de ultrassons.
Os pescadores de pé, em fila, dentro da água, aguardam a chegada dos golfinhos com as redes ("tarrafas") prontas para o arremesso.
Assim que os cardumes de taínhas são localizados e cercados contra a margem das lagoas pelos golfinhos, os pescadores acompanham parte da perseguição e atiram as suas redes.
Os golfinhos nascem e morrem nas lagoas da cidade. Criados dentro do canal, em contacto com os pescadores, vão perdendo o medo e segundo se crê, muitos deles chegam a empurrar os peixes para serem capturados pelos pescadores que conhecem cada golfinho/boto pelo seu nome: "Canivete", "Chinelo", "Jucelino", "Caroba", "Dolores", "Tanguinha", "Chega Mais", "Lata", "Galha Torta" e outros.
Esta pesca original é praticada o ano inteiro, mas é nos meses de Maio e Junho, na desova da taínha, que a pesca é mais frequente, devido à maior quantidade de peixe.
A taínha "Corceira" vem do Sul, em grandes cardumes, e para a desova precisa de águas calmas, por isso ao encontrar lagoas procura refúgio nelas. Os golfinhos/botos são
considerados os grandes amigos dos pescadores naquele local.
O conhecimento sobre esta caça conjunta tem sido transmitido de pai para filho, tanto nas famílias humanas como nas dos golfinhos, segundo se crê. Uma pesca artesanal ambientalmente sã e equilibrada.
Uma notícia na secção "Weird Nature" da BBC, podendo-se obter aqui mais detalhes sobre o fenómeno. Fica também uma sugestão de leitura especializada: Pryor, Karen, Jon Lindbergh, Scott Lindbergh and Raquel Milano, "A Dolphin-Human Fishing Cooperative in Brazil", «Marine Mammal Science», vol. 6, n.º 1 (January 1990) pp. 77-82, publicada pela Society for Marine Mammology (University of Washington, Seattle, WA).
Coral revela origens antigas dos genes humanos
Mais uma vez, o mundo marítimo revela parte dos segredos da vida na Terra.
O ADN dos Invertebrados tem suscitado questões pertinentes sobre os modelos aceites de evolução das espécies.
Os resultados de estudos sobre o coral apontam para que algumas das primeiras formas de vida no plante tenham atravessado o período Pre-Câmbrico (4.600 a 600 milhões de anos antes da nossa era) transportando consigo um conjunto de genes comuns aos humanos. Um exemplo recente mostrou que das 1.300 sequências de genes observadas no coral Acropora Millepora , perto de 500 são idênticas às dos humanos. Esta descoberta indica que muitos genes que se pensava serem específicos à espécie humana podem de facto ter origens bem mais antigas.
Surpreendentemente, muitos destes genes não são partilhados com outros seres como moscas ou vermes, muito embora estes animais se tenham desenvolvido e evoluído milhões de anos após o coral. Daí a questão gerada em redor das pesquisas que utilizam estes organismos como modelos para desvendar da evolução do genoma humano...
Questões científicas primordiais abordadas num artigo da revista «Nature».
O Mar ainda esconde muitas respostas às nossas interrogações. Urge conhecê-lo melhor.
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