"O «Taman Sari» é o mais estranho dos vestígios de Portugal na cidade de Jojakarta, Indonésia. Construído por um arquitecto português que ali naufragou em 1755, vai agora ser recuperado com o apoio da Fundação Calouste Gulbenkian.
Quando o turista português que vai à Indonésia em busca de vestígios de Portugal visita, na cidade de Jojakarta, o «Taman Sari» («Palácio da Água»), a primeira impressão é de estranheza e frustração. O que tem perante os seus olhos é um barroco oriental complicado, em que serpenteiam e se entrelaçam símbolos islâmicos e hindus: as «árvores da vida», as enormes asas da Garuda, a ave mítica, e as carrancas ameaçadoras dos «espanta-demónios». O visitante perguntar-se-á: o que é que este delírio arquitectónico tem a ver com Portugal? Por estranho e inesperado que pareça, tem".
Naufrágio e Obra
"A história do «Palácio da Água» é curiosa, misteriosa e sensual. No ano de 1755, reinava o sultão Hamengku Buwono I, fundador da dinastia ainda hoje reinante em Jojakarta. Constam as crónicas locais que as gentes do sultão encontraram, perdido numa praia no sul da cidade, um sobrevivente de um navio português naufragado. Desconhece-se o nome do náufrago, mas veio a verificar-se que era versado em arquitectura. O certo é que o sultão o chamou para colaborar no projecto do palácio de Verão que queria construir.
A construção do palácio-jardim decorreu até 1765. Satisfeito com os bons serviços prestados, o sultão concedeu ao arquitecto português o título nobiliárquico de «Demang». A partir de então, o nosso herói anónimo foi conhecido pela designação de «Demang Tuguis», sendo esta segunda palavra uma nítida corruptela da palavra «português».
O «Taman Sari» era um vastíssimo conjunto de arquitectura paisagística, com uma área superior a dez hectares. Como escreve o arquitecto João Campos, "a fabulosa extensão do programa edificado só é concebível (face à evidência do que resta e a grandiosidade que se imagina facilmente) pela existência de um extraordinário projecto urbanístico, desenvolvido para a representação de uma faustosa corte". O empreendimento contava com um lagos, piscinas, canais, pavilhões, residências para convidados, aposentos e recantos do mais variado tipo e uma mesquita a que se acedia por um percurso subaquático."
História de um Palácio Luso-Oriental
"Em tempos modernos, o primeiro português a interessar-se pelo que resta do «Taman Sari» foi, já em 1970, o diplomata António Pinto da França, no mais valioso documento até hoje publicado sobre a presença portuguesa naquelas paragens: a obra «Portuguese Influence in Indonesia».
Segundo João Campos, a parte do «Palácio da Água» que vai ser objecto de recuperação (o complexo das piscinas), revela «uma arquitectura de matriz europeia, seja pelo "cartesianismo" iluminista que aparentam, seja pela escala dos elementos definidores dos volumes construídos, para além de a própria concepção do conjunto das piscinas se filiar numa tradição portuguesa em palácios e quintas de recreio».
Para a arquitecta indonésia Laretna Adisatki, especialista em património construído, a influência portuguesa no «Taman Sari» terá, sobretudo, a ver com o plano geral do conjunto, geométrico e simétrico, e com os aspectos tecnológicos da construção, como, por exemplo, os materiais utilizados nas paredes dos edifícios.
No «Palácio da Água, os aposentos privados do sultão localozavam-se numa torre construída na área de lazer dos banhos, constituída por três piscinas; a torre é a parte da edificação em que será mais nitidamente detectável a influência portuguesa. Sob o olhar (no mínimo cobiçoso) do sultão, banhavam-se nas piscinas as concubinas do harém, cujas brincadeiras aquáticas ele acompanhava das janelas dos seus aposentos, no alto da torre, para escolher aquela que, nessa noite, partilharia o leito real. Em termos modernos, o local seria o que se chama um «spa», de grandes dimensões e com características peculiares...
Daqui se conclui que os portugueses não construíam apenas fortalezas, igrejas e feitorias nos lugares por onde iam passando ou onde se iam fixando. Sem objectivos bélicos, religiosos ou comerciais, o «Taman Sari» é uma obra de arquitectura puramente civil, produto da concepção modelar de um sofisticado espaço de lazer, digno de um potentado oriental do século XVIII.
Em 1867, um tremor de terra danificou seriamente o «Palácio da Água», que entrou em rápida decadência. Os edifícios ruíram, o grande lago artificial desapareceu, os canais, as fontes e os repuxos secaram, foram-se as árvores frondosas e as flores perfumadas. Os espaços arruinados foram aproveitados para a construção de casas modestas, onde se instalaram famílias dos servidores dos sultões. Houve, é certo, alguns restauros em décadas recentes, mas a parte que mais nos interessa, a nós, compatriotas do «Demang Tuguis», necessita urgentemente de recuperação.
Foi isso que, por iniciativa da antiga e dinâmica embaixadora de Portugal em Jacarta, Ana Gomes, o actual sultão de Jakarta solicitou à Fundação Gulbenkian. O sultão Hamengku Buwono é o décimo do mesmo nome; homem moderno e desempoeirado, a sua forte personalidade impô-lo na vida política da Indonésia, a ponto de, em 1998, ter sido reconhecido oficialmente pelo Governo central como governador da «Região Especial de Jojakarta». Detém, assim, uma dupla legitimidade, dinástica e política."
Recuperação do Património Distante
"A recuperação da parte «portuguesa» do «Taman Sari» encontra-se já em fase de projecto, uma vez mais cometido pela Fundação Gulbenkian ao arquitecto João Campos. Os problemas técnicos são complicados; acima de tudo, haverá que a estabilizar, pois em virtude da frequência de inundações no local, está em permanente risco de derrocada. E haverá também que eliminar remendos modernos, bem-intencionados mas descaracterizadores.
Termino esta história com uma extrapolação poética, imaginando que o turista português, ao revisitar o «Palácio da Água» já recuperado, ouve a voz de alguém, no antigo serrado dos sultões de Jojakarta, entoando uma cantiga de amor luso-indonésia, como esta que António Pinto da França regista no seu livro:
"Io buska mienja amada
Mienja noiba, mienja amor
Io buska até tudo banda
Isti corsan teeng tantu dor...".
Texto de José Blanco (Administrador da Fundação Calouste Gulbenkian), publicado na Revista do «Expresso» (10 de Maio de 2003), pp. 24-27.
Algumas informações complementares aqui.
terça-feira, dezembro 30, 2003
segunda-feira, dezembro 29, 2003
Herança Marítima Reconhecida: o Museu Nacional da Indústria Naval
A Assembleia da República aprovou por unanimidade, no passado dia 18 de Novembro, o relatório sobre o Projecto de Lei n.º 285/IX, que visa a criação do Museu Nacional da Indústria Naval, na dependência do Ministério da Cultura, a instalar em Almada.
A criação deste museu surge de uma proposta do Grupo Parlamentar do PCP, que defende que a evolução histórica da indústria da construção e manutenção naval, bem como a sua importância social e económica para o país, em particular, para a região da Grande Lisboa (com destaque para o Concelho de Almada), justifica a criação de um museu que valorize, promova e defenda a indústria naval portuguesa.
Ao museu serão confiadas as missões de promover a recolha de equipamentos e documentos relacionados com a indústria de reparação e construção naval em Portugal, bem como proteger, estudar e divulgar todo o acervo recolhido e promover o interesse público por aspectos relativos à herança cultural da indústria naval, através de exposições, colóquios e seminários.
Finalmente, boas notícias marítimas? Só esperamos que não termine no mesmo saco vazio ocorrido com o defraudado complexo museológico de Foz Côa.
A criação deste museu surge de uma proposta do Grupo Parlamentar do PCP, que defende que a evolução histórica da indústria da construção e manutenção naval, bem como a sua importância social e económica para o país, em particular, para a região da Grande Lisboa (com destaque para o Concelho de Almada), justifica a criação de um museu que valorize, promova e defenda a indústria naval portuguesa.
Ao museu serão confiadas as missões de promover a recolha de equipamentos e documentos relacionados com a indústria de reparação e construção naval em Portugal, bem como proteger, estudar e divulgar todo o acervo recolhido e promover o interesse público por aspectos relativos à herança cultural da indústria naval, através de exposições, colóquios e seminários.
Finalmente, boas notícias marítimas? Só esperamos que não termine no mesmo saco vazio ocorrido com o defraudado complexo museológico de Foz Côa.
domingo, dezembro 28, 2003
Captain's BLog 3000
Nesta nossa nova comemoração, enviamos saudações marítimas aos blogonautas que dirigem as ilustres embarcações seguintes (por ordem alfabética):
Acentos e Cedilhas, Baixa Pombalina , O Bisturi, Ciência na Blogosfera Portuguesa, Cobra Cuspideira, E Deus Tornou-se Visível , Blog-Notas, Desejo Casar,
Diário de Bordo , e-Museu , Estelionatária do Amor, História da Internet, História e Ciência, Hora Absurda , LetraBlog , Memorial do Convento , Naufrágios , No Arame, Oficina das Ideias , Rabiscos e Letras, Rouba a Alheira, Sebenta, SocioBlogue , Turista Acidental, Velharias, Wildthoughts , e o Inventário de Weblogs, muito embora este insista em continuar a registar o "Marítimo" como representante do conhecido clube de futebol insular...
É claro que se recomenda a visita a estes audazes mareantes. O "Marítimo" e a sua tripulação agradecem e retribuem as visitas e comentários trocados na faina dos 7 mares virtuais.
Por outro lado, o "Marítimo" prepara, para o novo ano que se avizinha, novos temas marítimos a nível da investigação histórica (alguns dos quais já publicados e outros em vias de publicação). Em breve, haverá mais novidades...
A todos, continuação de boa viagem e bom vento!
P.S. Um bom exemplo de blogues históricos que fazem falta na nossa Blogosfera: os dinossauros (que já por cá passaram bem antes dos nossos antepassados directos) surgem agora pela mão de Octávio Mateus, do Museu da Lourinhã. Interessantíssimo.
Acentos e Cedilhas, Baixa Pombalina , O Bisturi, Ciência na Blogosfera Portuguesa, Cobra Cuspideira, E Deus Tornou-se Visível , Blog-Notas, Desejo Casar,
Diário de Bordo , e-Museu , Estelionatária do Amor, História da Internet, História e Ciência, Hora Absurda , LetraBlog , Memorial do Convento , Naufrágios , No Arame, Oficina das Ideias , Rabiscos e Letras, Rouba a Alheira, Sebenta, SocioBlogue , Turista Acidental, Velharias, Wildthoughts , e o Inventário de Weblogs, muito embora este insista em continuar a registar o "Marítimo" como representante do conhecido clube de futebol insular...
É claro que se recomenda a visita a estes audazes mareantes. O "Marítimo" e a sua tripulação agradecem e retribuem as visitas e comentários trocados na faina dos 7 mares virtuais.
Por outro lado, o "Marítimo" prepara, para o novo ano que se avizinha, novos temas marítimos a nível da investigação histórica (alguns dos quais já publicados e outros em vias de publicação). Em breve, haverá mais novidades...
A todos, continuação de boa viagem e bom vento!
P.S. Um bom exemplo de blogues históricos que fazem falta na nossa Blogosfera: os dinossauros (que já por cá passaram bem antes dos nossos antepassados directos) surgem agora pela mão de Octávio Mateus, do Museu da Lourinhã. Interessantíssimo.
sábado, dezembro 27, 2003
«Como é que o alegre homem gordo pode caber numa chaminé?» e outras inocentes dúvidas científicas
Nas vésperas da quadra natalícia, alguns pais norte-americanos ficaram revoltados quando descobriram que uma professora da Florida tinha dito às crianças de uma turma da primeira classe que o Pai Natal era "a fingir". Aparentemente, tudo terá sido iniciado quando a Professora Codner falava sobre a Fada dos Dentes aos seus pequenos alunos. Segundo a CNN, ao ser confrontada com perguntas ingénuas sobre o que havia de verdadeiro e de falso nestas personagens folclóricas, a Professora terá começado a questionar partes da história, quando se falava do Pai Natal: como é que o alegre homem gordo pode caber numa chaminé? Como é que as renas podem voar à volta do Mundo numa só noite? afirmando às crianças que tal não era possível. Ao saber deste episódio invulgar, o próprio Director da escola encarregou-se de dar uma áspera "lição" à Professora.
Na verdade, este episódio vem comprovar que as crianças são, hoje em dia e cada vez mais cedo, actualizadas. De facto, algumas das suas perguntas colocam autênticos desafios aos interrogados. Aqui ficam algumas perguntas e respostas possíveis a serem estudadas pelos professores das novas gerações, no caso da existência física do Sr. Pai Natal voltar à baila:
Pergunta: As leis da Física deixam bem claro que, se o Pai Natal realmente distribui presentes a todos os bons meninos e meninas do mundo inteiro numa só noite, ele teria que viajar a uma velocidade de tal ordem, que o seu trenó, os brinquedos e o trem de renas se desintegrariam devido à intensa fricção do ar. Então, porque é que o Pai Natal não é um monte de cinzas?
Resposta: o Pai Natal, o seu trenó, os brinquedos e as suas renas são protegidos por um sistema de protecção térmica em placas de titânio semelhante àquele utilizado no "Space Shuttle". De igual modo, segundo a Teoria da Relatividade, assim que a enorme velocidade do trenó se aproxima da velocidade da luz, o Tempo (tal como o conhecemos) torna-se mais lento. Embora pareça aos observadores na Terra que o Pai Natal está nesse momento a distribuir presentes no espaço de uma só noite, na verdade ele já o fez algures durante o governo de Cavaco Silva.
Pergunta: Como é que o Pai Natal entra nas casas desprovidas de chaminé?
Resposta: De acordo com resultados obtidos em laboratório ainda não divulgados ao público, sempre que um corpo em movimento se aproxima da velocidade da luz, diminui de tamanho até atingir as proporções ínfimas de uma partícula teórica sub-atómica (um taquião). Deste modo, o Pai Natal pode entrar em qualquer casa tão facilmente como um "quark" ou um "neutrino".
P.S.: aqui fica o apontamento de um "site" exótico sobre uma ilha de Natal no Hawai. A fotografia da chegada do Pai Natal numa canoa polinésia é especialmente evocativa do aspecto marítimo desta quadra festiva.
Boas Festas a todos.
Na verdade, este episódio vem comprovar que as crianças são, hoje em dia e cada vez mais cedo, actualizadas. De facto, algumas das suas perguntas colocam autênticos desafios aos interrogados. Aqui ficam algumas perguntas e respostas possíveis a serem estudadas pelos professores das novas gerações, no caso da existência física do Sr. Pai Natal voltar à baila:
Pergunta: As leis da Física deixam bem claro que, se o Pai Natal realmente distribui presentes a todos os bons meninos e meninas do mundo inteiro numa só noite, ele teria que viajar a uma velocidade de tal ordem, que o seu trenó, os brinquedos e o trem de renas se desintegrariam devido à intensa fricção do ar. Então, porque é que o Pai Natal não é um monte de cinzas?
Resposta: o Pai Natal, o seu trenó, os brinquedos e as suas renas são protegidos por um sistema de protecção térmica em placas de titânio semelhante àquele utilizado no "Space Shuttle". De igual modo, segundo a Teoria da Relatividade, assim que a enorme velocidade do trenó se aproxima da velocidade da luz, o Tempo (tal como o conhecemos) torna-se mais lento. Embora pareça aos observadores na Terra que o Pai Natal está nesse momento a distribuir presentes no espaço de uma só noite, na verdade ele já o fez algures durante o governo de Cavaco Silva.
Pergunta: Como é que o Pai Natal entra nas casas desprovidas de chaminé?
Resposta: De acordo com resultados obtidos em laboratório ainda não divulgados ao público, sempre que um corpo em movimento se aproxima da velocidade da luz, diminui de tamanho até atingir as proporções ínfimas de uma partícula teórica sub-atómica (um taquião). Deste modo, o Pai Natal pode entrar em qualquer casa tão facilmente como um "quark" ou um "neutrino".
P.S.: aqui fica o apontamento de um "site" exótico sobre uma ilha de Natal no Hawai. A fotografia da chegada do Pai Natal numa canoa polinésia é especialmente evocativa do aspecto marítimo desta quadra festiva.
Boas Festas a todos.
terça-feira, dezembro 23, 2003
Projecto «Alligator»
Um feliz acaso fez com que tenham sido descobertos este ano no Service Historique de la Marine (em Vincennes, arredores de Paris) os planos de Brutus de Villeroi, inventor francês e autor, em 1861, do projecto técnico do USS «Alligator», primeiro submarino da Marinha de Guerra dos Estados Unidos. Curiosamente, o próprio arquivo onde se guarda a caixa contendo estes papeis não possuia qualquer registo bibliográfico sobre os mesmos.
A Pasta 3084...
...do Arquivo de Vincennes continha nem mais nem menos que os "Plans du Bateau Sous-Marin", ou seja, os planos técnicos, até agora desconhecidos, deste submarino pioneiro. Contém desenhos de um submersível longilíneo, em formato tubular, com uma série de pequenas vigias, uma câmara de mergulho e o sistema de propulsão inicial, com remos retrácteis. A descoberta permitirá a revelação de aspectos obscuros sobre a concepção e o desaparecimento do primeiro submarino de guerra norte-americano.
A investigação decorre a cargo de uma parceria entre o Office of Naval Research (Departamento de Pesquisa Naval) da N.O.A.A. (National Oceanic and Atmospheric Administration) e a U.S. Navy (Marinha de Guerra dos Estados Unidos), reunindo especialistas e investigadores em História naval, Arqueologia Náutica, Oceanografia, Engenharia e Exploração Oceânica para discutir a possibilidade de localização e recuperação do submarino afundado.
Afinal havia outro (submarino)
Esta curiosidade tecnológica é, de facto, pouco anterior ao «Hunley» (veja-se um nosso "post" anterior) mas inclui-se claramente neste período fértil em progresso navais durante a Guerra Civil norte-americana, que viu nascer alguns dos primeiros e mais conhecidos navios couraçados semi-submersíveis da História, como o USS «Monitor» (do qual falaremos dentro em pouco tempo), e as respostas dos Confederados, com o CSS «Hunley».
De facto, o «Alligator» foi concebido originalmente para fazer face a uma canhoneira couraçada semi-submersível, o USS «Virginia», também conhecido nos Estados do Norte como «Merrimack».
Construído em Filadélfia, o «Alligator» media 14 metros de comprimento e deslocava 275 toneladas (à superfície; 350 toneladas submerso), albergando uma tripulação de 20 homens. O sistema inicial de propulsão a remos foi mais tarde substituído por uma hélice helicoidal à ré.
Uma das mais interessantes características do «Alligator» era o seu sistema pioneiro, embora rudimentar, de renovação do ar, eliminando a ameaça do excesso de dióxido de carbono no seu interior. Muito provavelmente, disporia de um compressor de ar para alimentar o mergulhador durante as suas missões. Ambas características marcaram um enorme avanço para a época e não voltaram a ser utilizadas em submarinos até ao final do séc. XIX.
Sobre o pai do «Alligator», o francês Villeroi, emigrado nos Estados Unidos alguns historiadores pensam que poderá ter tido influencia decisiva na mente imaginativa de um jovem discípulo na disciplina de matemática, Júlio Verne. Sabe-se ainda que Villeroi dedicou-se a experiências com navios submersíveis no Rio Delaware, tendo-lhe sido confiscado em 1861 um submarino anterior pela Polícia de Filadélfia, que suspeitava de alegadas "intenções traiçoeiras". Um excesso de elo que não impediu o desenvolvimento da prometedora arma submersa.
A Perda do «Alligator»
Lançado em Maio de 1862, o submarino nunca entrou em combate, embora tenha sido o primeiro submarino da US Navy a ser posicionado numa zona de guerra, em Hampton Roads, onde se planeara uma acção de demolição de pontes e obstáculos inimigos, sem sequência.
O próprio Presidente Abraham Lincoln, personagem fascinado pela tecnologia, terá testemunhado os trabalhos de remodelação a que foi sujeito em 1862 nos estaleiros de Washington.
No ano seguinte, ao ser rebocado (selado e vazio) pelo vapor USS «Sumpter» para uma nova zona de operações, no porto de Charleston, o «Alligator» afundou-se no meio de uma tempestade repentina, algures ao largo do traiçoeiro Cabo Hatteras, na Carolina do Norte. As últimas coordenadas registadas foram 34.43 de Latitude e 75.20 de Longitude ao meio-dia de 2 de Abril de 1863. Tendo cortado as amarras com que rebocava o submarino, o «Sumpter» só pôde tentar regressar ao local onde o abandonara à deriva um dia depois, mas sem sucesso devido à intensidade dos ventos.
A partir de então, o notável submarino caiu no esquecimento.
História, Mistério e Tecnologia Naval
O sistema ofensivo do «Alligator» consistia, supreendentemente num "hard-hat diver", isto é, um mergulhador "pé-de-chumbo" com capacete rígido enviado a danificar navios inimigos) em vez da carga explosva transportada num esporão à vante do «Hunley».
O mergulhador deixaria o submarino através de uma inovadora câmara de mergulho, transportando uma carga explosiva ligada ao submarino por cabos eléctricos, colocaria a carga ao casco a atingir, a qual seria detonada posteriormente por descarga eléctrica.
No entanto, o submarino destinava-se a operar apenas em águas fluviais e portuárias.
Em Busca da Arma Submersa
Um dos responsáveis por esta busca original, o Contra-Almirante Jay Cohen, Director do Office of Naval Research teve a ideia de lançar o projecto em 2002, quando esteve envolvido na bem sucedida missão de busca vedeta torpedeira ("torpedo boat") a bordo da qual servia o futuro Presidente John F. Kennedy durante a II Guerra Mundial, a célebre PT-109 afundada no Pacífico Sul.
Pensa-se que o «Alligator» se poderá encontrar a 3.000 metros de profundidade, nas proximidades do limite da plataforma continental norte-americana.
O primeiro Simpósio sobre o fascinante USS «Alligator» decorreu no Museu "Historic Ship Nautilus and Submarine Force" em Groton, no Connecticut, tendo servido para reunir e partilhar informações e novas descobertas entre especialistas sobre o submarino.
Leia-se notícia detalhada no Washington Post.
A história destes pioneiros navios submersíveis de guerra foi recentemente publicada por Mark K. Ragan, em "Submarine Warfare in the Civil War", em 1999 e reeditado em 2002.
Novas Descobertas Subaquáticas?
Segundo o director do Virginia War Museum, uma prospecção subaquática levada a cabo para construção de um terminal marítimo no Rio Elizabeth assinalou a existência de duas grandes massas metálicas afundadas. Os investigadores pensam tratarem-se dos destroços do semi-submersível couraçado CSS «Virginia» («Merrimack») e de uma escuna que colidiu com ele e afundou-se ao seu lado. O «Virginia» foi abandonado e destruído pela tripulação ao largo de Craney Island (Virginia) em 1862, depois de um combate com o seu rival directo, o USS «Monitor», também ele redescoberto a 73 metros de profundidade, cujas caldeira e torre de canhões foram removidas numa operação igualmente liderada pelo N.O.A.A..
A Pasta 3084...
...do Arquivo de Vincennes continha nem mais nem menos que os "Plans du Bateau Sous-Marin", ou seja, os planos técnicos, até agora desconhecidos, deste submarino pioneiro. Contém desenhos de um submersível longilíneo, em formato tubular, com uma série de pequenas vigias, uma câmara de mergulho e o sistema de propulsão inicial, com remos retrácteis. A descoberta permitirá a revelação de aspectos obscuros sobre a concepção e o desaparecimento do primeiro submarino de guerra norte-americano.
A investigação decorre a cargo de uma parceria entre o Office of Naval Research (Departamento de Pesquisa Naval) da N.O.A.A. (National Oceanic and Atmospheric Administration) e a U.S. Navy (Marinha de Guerra dos Estados Unidos), reunindo especialistas e investigadores em História naval, Arqueologia Náutica, Oceanografia, Engenharia e Exploração Oceânica para discutir a possibilidade de localização e recuperação do submarino afundado.
Afinal havia outro (submarino)
Esta curiosidade tecnológica é, de facto, pouco anterior ao «Hunley» (veja-se um nosso "post" anterior) mas inclui-se claramente neste período fértil em progresso navais durante a Guerra Civil norte-americana, que viu nascer alguns dos primeiros e mais conhecidos navios couraçados semi-submersíveis da História, como o USS «Monitor» (do qual falaremos dentro em pouco tempo), e as respostas dos Confederados, com o CSS «Hunley».
De facto, o «Alligator» foi concebido originalmente para fazer face a uma canhoneira couraçada semi-submersível, o USS «Virginia», também conhecido nos Estados do Norte como «Merrimack».
Construído em Filadélfia, o «Alligator» media 14 metros de comprimento e deslocava 275 toneladas (à superfície; 350 toneladas submerso), albergando uma tripulação de 20 homens. O sistema inicial de propulsão a remos foi mais tarde substituído por uma hélice helicoidal à ré.
Uma das mais interessantes características do «Alligator» era o seu sistema pioneiro, embora rudimentar, de renovação do ar, eliminando a ameaça do excesso de dióxido de carbono no seu interior. Muito provavelmente, disporia de um compressor de ar para alimentar o mergulhador durante as suas missões. Ambas características marcaram um enorme avanço para a época e não voltaram a ser utilizadas em submarinos até ao final do séc. XIX.
Sobre o pai do «Alligator», o francês Villeroi, emigrado nos Estados Unidos alguns historiadores pensam que poderá ter tido influencia decisiva na mente imaginativa de um jovem discípulo na disciplina de matemática, Júlio Verne. Sabe-se ainda que Villeroi dedicou-se a experiências com navios submersíveis no Rio Delaware, tendo-lhe sido confiscado em 1861 um submarino anterior pela Polícia de Filadélfia, que suspeitava de alegadas "intenções traiçoeiras". Um excesso de elo que não impediu o desenvolvimento da prometedora arma submersa.
A Perda do «Alligator»
Lançado em Maio de 1862, o submarino nunca entrou em combate, embora tenha sido o primeiro submarino da US Navy a ser posicionado numa zona de guerra, em Hampton Roads, onde se planeara uma acção de demolição de pontes e obstáculos inimigos, sem sequência.
O próprio Presidente Abraham Lincoln, personagem fascinado pela tecnologia, terá testemunhado os trabalhos de remodelação a que foi sujeito em 1862 nos estaleiros de Washington.
No ano seguinte, ao ser rebocado (selado e vazio) pelo vapor USS «Sumpter» para uma nova zona de operações, no porto de Charleston, o «Alligator» afundou-se no meio de uma tempestade repentina, algures ao largo do traiçoeiro Cabo Hatteras, na Carolina do Norte. As últimas coordenadas registadas foram 34.43 de Latitude e 75.20 de Longitude ao meio-dia de 2 de Abril de 1863. Tendo cortado as amarras com que rebocava o submarino, o «Sumpter» só pôde tentar regressar ao local onde o abandonara à deriva um dia depois, mas sem sucesso devido à intensidade dos ventos.
A partir de então, o notável submarino caiu no esquecimento.
História, Mistério e Tecnologia Naval
O sistema ofensivo do «Alligator» consistia, supreendentemente num "hard-hat diver", isto é, um mergulhador "pé-de-chumbo" com capacete rígido enviado a danificar navios inimigos) em vez da carga explosva transportada num esporão à vante do «Hunley».
O mergulhador deixaria o submarino através de uma inovadora câmara de mergulho, transportando uma carga explosiva ligada ao submarino por cabos eléctricos, colocaria a carga ao casco a atingir, a qual seria detonada posteriormente por descarga eléctrica.
No entanto, o submarino destinava-se a operar apenas em águas fluviais e portuárias.
Em Busca da Arma Submersa
Um dos responsáveis por esta busca original, o Contra-Almirante Jay Cohen, Director do Office of Naval Research teve a ideia de lançar o projecto em 2002, quando esteve envolvido na bem sucedida missão de busca vedeta torpedeira ("torpedo boat") a bordo da qual servia o futuro Presidente John F. Kennedy durante a II Guerra Mundial, a célebre PT-109 afundada no Pacífico Sul.
Pensa-se que o «Alligator» se poderá encontrar a 3.000 metros de profundidade, nas proximidades do limite da plataforma continental norte-americana.
O primeiro Simpósio sobre o fascinante USS «Alligator» decorreu no Museu "Historic Ship Nautilus and Submarine Force" em Groton, no Connecticut, tendo servido para reunir e partilhar informações e novas descobertas entre especialistas sobre o submarino.
Leia-se notícia detalhada no Washington Post.
A história destes pioneiros navios submersíveis de guerra foi recentemente publicada por Mark K. Ragan, em "Submarine Warfare in the Civil War", em 1999 e reeditado em 2002.
Novas Descobertas Subaquáticas?
Segundo o director do Virginia War Museum, uma prospecção subaquática levada a cabo para construção de um terminal marítimo no Rio Elizabeth assinalou a existência de duas grandes massas metálicas afundadas. Os investigadores pensam tratarem-se dos destroços do semi-submersível couraçado CSS «Virginia» («Merrimack») e de uma escuna que colidiu com ele e afundou-se ao seu lado. O «Virginia» foi abandonado e destruído pela tripulação ao largo de Craney Island (Virginia) em 1862, depois de um combate com o seu rival directo, o USS «Monitor», também ele redescoberto a 73 metros de profundidade, cujas caldeira e torre de canhões foram removidas numa operação igualmente liderada pelo N.O.A.A..
Então sempre se faz...
...o túnel sob o Estreito de Gibraltar.
Desta é de vez, a construção deverá ser iniciada dentro de 5 anos, unindo Europa e África. Prevê-se a conclusão deste mega-projecto dentro de uma década.
O túnel ferroviário, baseado no "Channel Tunnel" sob o Canal da Mancha, terá cerca de 40 quilómetros, 27 dos quais serão escavados sob as águas do Estreito que une o Atlântico ao Mediterrâneo, atingindo uma profundidade de 390 metros abaixo do nível do mar no seu ponto mais baixo.
A extremidade espanhola do túnel será em Punta Palomas, cerca de 47 quilómetros a Oeste de Gibraltar, enquanto que a extremidade Marroquina se situará em Punta Malabata, próximo de Tânger.
Os dois países comprometeram-se a um investimento inicial de 26 milhões de Euros na pesquisa do projecto, a decorrer nos próximos dois anos.
Mais detalhes na BBC.
Ponte ou Túnel?
Uma ideia competidora para travessia do Estreito sobre uma ponte foi rejeitada, não obstante as declarações confiantes do Engenheiro projectista, afirmando recentemente que a ponte nunca cairía vítima de tempestade alguma.
Curiosidades
Há quase 13 séculos, Rodrigo, último rei Visigodo de Espanha, não resistiu ao ímpeto muçulmano.
No ano 711 d.C. Tarik ibn Ziyad, general e governador da faixa ocidental do Magrebe, atravessou o Estreito à frente de 18 mil homens, baptizando com o seu nome o enorme rochedo andaluz: Jab Al Tariq (Gibraltar), dando início à invasão da Península Ibérica. Mais uma vez, o Mundo Árabe aqui tão perto de nós. Espera-se agora uma invasão bem mais pacífica e de utilidade para ambos os lados do Estreito.
Estreito este, que em 2004 assinala (coincidência ou não) o aniversário de 3 séculos de presença inglesa em Espanha.
Uma espinha decerto difícil de engolir para Aznar.
Desta é de vez, a construção deverá ser iniciada dentro de 5 anos, unindo Europa e África. Prevê-se a conclusão deste mega-projecto dentro de uma década.
O túnel ferroviário, baseado no "Channel Tunnel" sob o Canal da Mancha, terá cerca de 40 quilómetros, 27 dos quais serão escavados sob as águas do Estreito que une o Atlântico ao Mediterrâneo, atingindo uma profundidade de 390 metros abaixo do nível do mar no seu ponto mais baixo.
A extremidade espanhola do túnel será em Punta Palomas, cerca de 47 quilómetros a Oeste de Gibraltar, enquanto que a extremidade Marroquina se situará em Punta Malabata, próximo de Tânger.
Os dois países comprometeram-se a um investimento inicial de 26 milhões de Euros na pesquisa do projecto, a decorrer nos próximos dois anos.
Mais detalhes na BBC.
Ponte ou Túnel?
Uma ideia competidora para travessia do Estreito sobre uma ponte foi rejeitada, não obstante as declarações confiantes do Engenheiro projectista, afirmando recentemente que a ponte nunca cairía vítima de tempestade alguma.
Curiosidades
Há quase 13 séculos, Rodrigo, último rei Visigodo de Espanha, não resistiu ao ímpeto muçulmano.
No ano 711 d.C. Tarik ibn Ziyad, general e governador da faixa ocidental do Magrebe, atravessou o Estreito à frente de 18 mil homens, baptizando com o seu nome o enorme rochedo andaluz: Jab Al Tariq (Gibraltar), dando início à invasão da Península Ibérica. Mais uma vez, o Mundo Árabe aqui tão perto de nós. Espera-se agora uma invasão bem mais pacífica e de utilidade para ambos os lados do Estreito.
Estreito este, que em 2004 assinala (coincidência ou não) o aniversário de 3 séculos de presença inglesa em Espanha.
Uma espinha decerto difícil de engolir para Aznar.
segunda-feira, dezembro 22, 2003
Últimas da recuperação da carga de moedas no SS «Republic»
Dezenas de milhares de moedas norte-americanas estão neste momento a ser recuperadas do naufrágio do SS «Republic» ao largo dos Estados Unidos, numa operação que tudo indica irá transformar-se na mais valiosa colecção de numismática a circular no mercado. A exploração subaquática do sítio de naufrágio do «Republic» está a ser conduzida pela Odyssey Marine Exploration, empresa privada sediada em Tampa, no Estado da Florida. Entretanto, foram concedidos aos Numismatic Conservation Services (NCS) e à Numismatic Guaranty Corporation (NGC) contratos exclusivos para realizar as necessárias operações de conservação, limpeza, certificação de autenticidade e embalagem destas moedas tendo em vista a sua comercialização.
Moedas ao Fundo
O SS «Republic» era um navio a vapor movido a rodas de pás que naufragou em 1865 na costa Leste dos Estados Unidos ao largo do Estado da Georgia, arrastando para o fundo cerca de 400.000 dólares em moedas de ouro de 20 dólares, carga que transportava entre Nova Iorque e Nova Orleães para financiar a reconstrução do Sul dos Estados Unidos após o final da Guerra Civil.
Mergulhos Bem Sucedidos
Entre as moedas recuperadas encontram-se numerosas "gold eagles", "gold double eagles" e "silver half dollars", moedas extremamente valiosas datando das décadas de 1850 e 1860. Ao contrário do que se verificou com outras cargas naufragadas resgatadas, foi tomado o cuidado de registar as datas, emissões e outros pormenores numismáticos de cada moeda, afim de elaborar uma base de dados exaustiva para estudos posteriores. Tendo em conta o bom estado de conservação de muitas das moedas e de algumas delas serem exemplares até agora raros, esta colecção inclui já muitos dos melhores exemplares de moedas de ouro e prata norte-americanas daquele período.
A História Continua
Leia-se a recente nota de imprensa, no "site" da Odyssey Marine Exploration e dos Numismatic Conservation Services.
Moedas ao Fundo
O SS «Republic» era um navio a vapor movido a rodas de pás que naufragou em 1865 na costa Leste dos Estados Unidos ao largo do Estado da Georgia, arrastando para o fundo cerca de 400.000 dólares em moedas de ouro de 20 dólares, carga que transportava entre Nova Iorque e Nova Orleães para financiar a reconstrução do Sul dos Estados Unidos após o final da Guerra Civil.
Mergulhos Bem Sucedidos
Entre as moedas recuperadas encontram-se numerosas "gold eagles", "gold double eagles" e "silver half dollars", moedas extremamente valiosas datando das décadas de 1850 e 1860. Ao contrário do que se verificou com outras cargas naufragadas resgatadas, foi tomado o cuidado de registar as datas, emissões e outros pormenores numismáticos de cada moeda, afim de elaborar uma base de dados exaustiva para estudos posteriores. Tendo em conta o bom estado de conservação de muitas das moedas e de algumas delas serem exemplares até agora raros, esta colecção inclui já muitos dos melhores exemplares de moedas de ouro e prata norte-americanas daquele período.
A História Continua
Leia-se a recente nota de imprensa, no "site" da Odyssey Marine Exploration e dos Numismatic Conservation Services.
O Vapor das Esmeraldas
As autoridades italianas estão a realizar uma exploração subaquática com recurso a alta tecnologia, em busca de uma carga valiosa afundada a grande profundidade, afim de recuperar moedas e jóias nos destroços do «Pollux» (ou «Polluce», em italiano), navio a vapor movido a rodas de pás naufragado ao largo da ilha de Elba em 1841 devido a uma colisão. Repousa hoje a 100 metros de profundidade sob as águas do Mediterrâneo.
Viagem interrompida
O «Pollux» partira de Marselha e dirigia-se a Nápoles, transportando uma carga de 170.000 moedas, avaliadas hoje em cerca de 17 milhões de Euros, de acordo com a revista italiana "Focus". Entre os passageiros ilustres do navio, encontravam-se uma condessa russa e uma duquesa italiana que transportavam diamantes e esmeraldas.
Mãos na Massa
A equipa de especialistas utilizou um veículo telecomandado (ROV) que recuperou algumas moedas de ouro e prata. Actualmente,o sítio de naufrágio encontra-se interditado à navegação e protegido, pois uma parte da carga já tinha sido recuperada ilegalmente por 4 mergulhadores britânicos e levada a leilão em Londres no ano de 2000, embora tenha sido embargada pela Scotland Yard, resultando na devolução ao governo italiano de 300 moedas de ouro, 2.000 moedas de prata, diamantes e braceletes, no valor total de 99.000 Euros.
Viagem interrompida
O «Pollux» partira de Marselha e dirigia-se a Nápoles, transportando uma carga de 170.000 moedas, avaliadas hoje em cerca de 17 milhões de Euros, de acordo com a revista italiana "Focus". Entre os passageiros ilustres do navio, encontravam-se uma condessa russa e uma duquesa italiana que transportavam diamantes e esmeraldas.
Mãos na Massa
A equipa de especialistas utilizou um veículo telecomandado (ROV) que recuperou algumas moedas de ouro e prata. Actualmente,o sítio de naufrágio encontra-se interditado à navegação e protegido, pois uma parte da carga já tinha sido recuperada ilegalmente por 4 mergulhadores britânicos e levada a leilão em Londres no ano de 2000, embora tenha sido embargada pela Scotland Yard, resultando na devolução ao governo italiano de 300 moedas de ouro, 2.000 moedas de prata, diamantes e braceletes, no valor total de 99.000 Euros.
sábado, dezembro 20, 2003
Pescaria a grandes profundidades
Eles aí estão, os mergulhadores profissionais, condignamente representados pelo Xaputa, espécie em extinção mas sem papas na língua. Uma autêntica caldeirada.
Deliciem-se.
Deliciem-se.
sexta-feira, dezembro 19, 2003
Real Batalha sobre Tesouro Afundado
Nem de propósito...
Já no início deste ano, assistiu-se a um confronto judicial internacional surgido entre o Governos espanhol e francês e a "Sub Sea Research", companhia privada norte-americana de recuperações subaquáticas a propósito daquele que muitos acreditam ser o naufrágio mais valioso de sempre.
A "Sub Sea Research" anunciou então que encontrara os destroços do navio francês «Notre Dame de Deliverance», afundado em 1755 numa tempestade a 60 quilómetros ao largo de Key West, na Florida, repousando a cerca de 70 metros de profundidade. O navio mercante, armado na ocasião com 64 canhões e com 512 homens a bordo, tinha sido fretado pela Coroa de Espanha para o transporte dos metais preciosos extraídos das minas mexicanas e peruanas. Nessa altura, um tribunal da Florida concedeu direitos limitados de exploração à companhia para operar no sítio de naufrágio.
O Valor da Lei
A lei norte-americana considera os sítios de naufrágio como "património cultural submerso".
Mas as regras sobre a gestão e protecção deste património têm evoluido, sobretudo desde a célebre e longa batalha legal do malogrado veterano Mel Fisher com o Estado da Florida sobre direitos exclusivos do tesouro do «Nuestra Señora de Atocha», afundado em 1622, permitindo aos recuperadores privados a exploração de naufrágios de propriedade pública, desde que o interesse público na preservação histórico esteja garantido. Na prática, isto quer dizer que a protecção de todo e qualquer artefacto de interesse arqueológico é sempre garantida, embora exploradores particulares possam obter direitos legais (a ser negociados) sobre a carga preciosa, sempre que esta não apresente aos aolhos dos arqueólogos algum interesse histórico.
A Espanha tem tentado provar o seu direito de propriedade junto dos tribunais norte-americanos. Ainda que o «Deliverance» não fosse um navio de propriedade espanhola, encontrava-se no momento do sinistro ao serviço de Espanha e a carga perdida em causa era de facto espanhola. Mais, a Espanha invocou também a perda de vidas humanas no desastre, o que poderia constituir mais um elemento a seu favor. No entanto, o governo francês socorre-se do facto de que o navio foi construído em França e servia a Companhia das Índias Ocidentais quando foi fretado pela Coroa de Espanha. O veredicto cabe aos tribunais norte-americanos os quais, tanto quanto se sabe, ainda não se pronunciaram em definitivo sobre a matéria.
O Rico Mar da Florida
Entretanto, a "Sub Sea Research" apresentou um inventário original (incompleto) realizado pouco antes da partida do navio do porto de Havana (Cuba).
A carga consistia em dezenas de arcas contendo pouco mais de meia tonelada de ouro e prata bruta, pedras preciosas (sobretudo diamantes), metal amoedado (cerca de 1 milhão e 100 mil moedas em ouro e prata) e objectos valiosos (caixas em ouro).
Valor actual: estimado em 3 bilhões de dólares.
A fabulosa carga do "Delivrance" é aproximadamente 10 vezes superior ao valor da carga recuperada no galeão espanhol «Nuestra Senora de Atocha», uns meros 400 milhões de dólares.
Mais detalhes aqui.
Já no início deste ano, assistiu-se a um confronto judicial internacional surgido entre o Governos espanhol e francês e a "Sub Sea Research", companhia privada norte-americana de recuperações subaquáticas a propósito daquele que muitos acreditam ser o naufrágio mais valioso de sempre.
A "Sub Sea Research" anunciou então que encontrara os destroços do navio francês «Notre Dame de Deliverance», afundado em 1755 numa tempestade a 60 quilómetros ao largo de Key West, na Florida, repousando a cerca de 70 metros de profundidade. O navio mercante, armado na ocasião com 64 canhões e com 512 homens a bordo, tinha sido fretado pela Coroa de Espanha para o transporte dos metais preciosos extraídos das minas mexicanas e peruanas. Nessa altura, um tribunal da Florida concedeu direitos limitados de exploração à companhia para operar no sítio de naufrágio.
O Valor da Lei
A lei norte-americana considera os sítios de naufrágio como "património cultural submerso".
Mas as regras sobre a gestão e protecção deste património têm evoluido, sobretudo desde a célebre e longa batalha legal do malogrado veterano Mel Fisher com o Estado da Florida sobre direitos exclusivos do tesouro do «Nuestra Señora de Atocha», afundado em 1622, permitindo aos recuperadores privados a exploração de naufrágios de propriedade pública, desde que o interesse público na preservação histórico esteja garantido. Na prática, isto quer dizer que a protecção de todo e qualquer artefacto de interesse arqueológico é sempre garantida, embora exploradores particulares possam obter direitos legais (a ser negociados) sobre a carga preciosa, sempre que esta não apresente aos aolhos dos arqueólogos algum interesse histórico.
A Espanha tem tentado provar o seu direito de propriedade junto dos tribunais norte-americanos. Ainda que o «Deliverance» não fosse um navio de propriedade espanhola, encontrava-se no momento do sinistro ao serviço de Espanha e a carga perdida em causa era de facto espanhola. Mais, a Espanha invocou também a perda de vidas humanas no desastre, o que poderia constituir mais um elemento a seu favor. No entanto, o governo francês socorre-se do facto de que o navio foi construído em França e servia a Companhia das Índias Ocidentais quando foi fretado pela Coroa de Espanha. O veredicto cabe aos tribunais norte-americanos os quais, tanto quanto se sabe, ainda não se pronunciaram em definitivo sobre a matéria.
O Rico Mar da Florida
Entretanto, a "Sub Sea Research" apresentou um inventário original (incompleto) realizado pouco antes da partida do navio do porto de Havana (Cuba).
A carga consistia em dezenas de arcas contendo pouco mais de meia tonelada de ouro e prata bruta, pedras preciosas (sobretudo diamantes), metal amoedado (cerca de 1 milhão e 100 mil moedas em ouro e prata) e objectos valiosos (caixas em ouro).
Valor actual: estimado em 3 bilhões de dólares.
A fabulosa carga do "Delivrance" é aproximadamente 10 vezes superior ao valor da carga recuperada no galeão espanhol «Nuestra Senora de Atocha», uns meros 400 milhões de dólares.
Mais detalhes aqui.
quarta-feira, dezembro 17, 2003
Tragédia e Negócio: o Ouro do HMS «Sussex»
O HMS «Sussex», navio de linha de 80 canhões com 47 metros de comprimento comandado pelo Almirante Sir Francis Wheeler, liderava uma enorme esquadra inglesa composta por mais de 100 navios dirigida ao Mediterrâneo para uma ofensiva contra França quando se afundou no meio de uma violenta tempestade transportando 500 homens a bordo.
Segundo certas investigações, o navio de guerra transportaria nos seus porões cerca de 9 toneladas de moedas de ouro destinadas a comprar a lealdade de um potencial aliado no Sudeste de França, o Duque de Sabóia.
Recentemente, depois de aturadas investigações no mar e avultadas negociações em terra, a companhia norte-americana Odyssey Marine Exploration Inc. irá recuperar a carga de um navio de guerra inglês naufragado em 1694. Está aberto o mais recente capítulo da caça aos tesouros afundados.
A companhia irá utilizar um ROV ("Remotely Operated Vehicle", veículo robotizado telecomandado) de 7 toneladas denominado «Zeus», para explorar destroços encontrados ao largo de Espanha, em busca do alegado tesouro. O «Zeus» é dotado da última tecnologia, sendo capaz de mergulhar a 2.500 metros e possui braços manipuláveis extremamente precisos capazes de efectuar recuperações de pequenos objectos.
O Tesouro e a Caça
Em caso de confirmação positiva dos destroços descobertos no fundo do mar ao largo de Gibraltar com o «Sussex», estima-se que o pequeno robot possa recuperar uma quantia avaliada entre os 500 milhões a 4 bilhões de dólares.
De acordo com a legislação internacional, naufrágios deste tipo mantêm-se propriedade do governo sob os quais operavam durante a sua vida activa, neste caso pertencendo ainda ao governo britânico.
No entanto, foi alcançado um acordo exclusivo para uma intervenção de estudo e recuperação no início deste ano entre o governo de Sua Magestade com a companhia privada norte-americana (consulte-se o relatório do Ministério da Defesa, a página 7).
A Odyssey Marine Exploration assume a despesa inicial da campanha, o que poderá ascender a perto de 5 milhões de dólares, mas o contrato concede à companhia uns generosos 80 por cento dos primeiros 45 milhões de dólares obtidos pela venda das moedas recolhidas. Quaisquer receitas até 500 milhões de dólares serão divididas em partes iguais entre a companhia e o Governo britânico, o qual receberá 60 por cento de qualquer receita adicional.
Um acordo que, diga-se, suscitou polémica no meio da Arqueologia inglesa, prendendo-se com o tipo de trabalho pretendido, que na verdade envolve extracção de peças de interesse arqueológico e a consequente venda de parte desse património, contrários aos princípois básicos da política patrimonial britânica e mesmo de convenções internacionais a que o Reino Unido aderiu. Um acto previsivelmente condenável, pois não estão assegurados o devido acompanhamento e metodologia científica da Arqueologia Subaquática indispensáveis para assegurar a integridade do conhecimento a obter a partir do naufrágio.
Os Caçadores Subaquáticos do Séc. XXI
Trata-se da mesma companhia que descobriu e explora o rico naufrágio do SS «Republic», um navio a vapor movido a rodas de pás afundado em 1865 na costa Leste dos Estados Unidos, ao largo do Estado da Georgia, arrastando para o fundo cerca de 400.000 dólares em moedas de ouro de 20 dólares, carga que transportava entre Nova Iorque e Nova Orleães para financiar a reconstrução do Sul dos Estados Unidos após o fim da Guerra Civil.
Em resultado da primeira exploração, foi recuperado o sino de bordo, cujas inscrições permitiram a identificação do navio.
A descoberta desta carga está avaliada em cerca de 120 milhões de dólares actuais. Boas notícias para os accionistas da Odyssey Marine Exploration, líder no campo de recuperação de naufrágios em águas profundas, pois está cotada na Bolsa norte-americana.
À Conquista das Fortunas Afundadas
A Odyssey Marine Exploration possui actualmente vários projectos de exploração de naufrágios em várias fases de desenvolvimento nos mares do mundo inteiro, incluindo agora o «Sussex». O navio-base da companhia, «Odyssey Explorer», encontra-se estacionado sobre o sítio de naufrágio do SS «Republic» desde início do Outubro. As operações no «Sussex» terão início logo após a campanha de exploração do SS «Republic».
Segundo certas investigações, o navio de guerra transportaria nos seus porões cerca de 9 toneladas de moedas de ouro destinadas a comprar a lealdade de um potencial aliado no Sudeste de França, o Duque de Sabóia.
Recentemente, depois de aturadas investigações no mar e avultadas negociações em terra, a companhia norte-americana Odyssey Marine Exploration Inc. irá recuperar a carga de um navio de guerra inglês naufragado em 1694. Está aberto o mais recente capítulo da caça aos tesouros afundados.
A companhia irá utilizar um ROV ("Remotely Operated Vehicle", veículo robotizado telecomandado) de 7 toneladas denominado «Zeus», para explorar destroços encontrados ao largo de Espanha, em busca do alegado tesouro. O «Zeus» é dotado da última tecnologia, sendo capaz de mergulhar a 2.500 metros e possui braços manipuláveis extremamente precisos capazes de efectuar recuperações de pequenos objectos.
O Tesouro e a Caça
Em caso de confirmação positiva dos destroços descobertos no fundo do mar ao largo de Gibraltar com o «Sussex», estima-se que o pequeno robot possa recuperar uma quantia avaliada entre os 500 milhões a 4 bilhões de dólares.
De acordo com a legislação internacional, naufrágios deste tipo mantêm-se propriedade do governo sob os quais operavam durante a sua vida activa, neste caso pertencendo ainda ao governo britânico.
No entanto, foi alcançado um acordo exclusivo para uma intervenção de estudo e recuperação no início deste ano entre o governo de Sua Magestade com a companhia privada norte-americana (consulte-se o relatório do Ministério da Defesa, a página 7).
A Odyssey Marine Exploration assume a despesa inicial da campanha, o que poderá ascender a perto de 5 milhões de dólares, mas o contrato concede à companhia uns generosos 80 por cento dos primeiros 45 milhões de dólares obtidos pela venda das moedas recolhidas. Quaisquer receitas até 500 milhões de dólares serão divididas em partes iguais entre a companhia e o Governo britânico, o qual receberá 60 por cento de qualquer receita adicional.
Um acordo que, diga-se, suscitou polémica no meio da Arqueologia inglesa, prendendo-se com o tipo de trabalho pretendido, que na verdade envolve extracção de peças de interesse arqueológico e a consequente venda de parte desse património, contrários aos princípois básicos da política patrimonial britânica e mesmo de convenções internacionais a que o Reino Unido aderiu. Um acto previsivelmente condenável, pois não estão assegurados o devido acompanhamento e metodologia científica da Arqueologia Subaquática indispensáveis para assegurar a integridade do conhecimento a obter a partir do naufrágio.
Os Caçadores Subaquáticos do Séc. XXI
Trata-se da mesma companhia que descobriu e explora o rico naufrágio do SS «Republic», um navio a vapor movido a rodas de pás afundado em 1865 na costa Leste dos Estados Unidos, ao largo do Estado da Georgia, arrastando para o fundo cerca de 400.000 dólares em moedas de ouro de 20 dólares, carga que transportava entre Nova Iorque e Nova Orleães para financiar a reconstrução do Sul dos Estados Unidos após o fim da Guerra Civil.
Em resultado da primeira exploração, foi recuperado o sino de bordo, cujas inscrições permitiram a identificação do navio.
A descoberta desta carga está avaliada em cerca de 120 milhões de dólares actuais. Boas notícias para os accionistas da Odyssey Marine Exploration, líder no campo de recuperação de naufrágios em águas profundas, pois está cotada na Bolsa norte-americana.
À Conquista das Fortunas Afundadas
A Odyssey Marine Exploration possui actualmente vários projectos de exploração de naufrágios em várias fases de desenvolvimento nos mares do mundo inteiro, incluindo agora o «Sussex». O navio-base da companhia, «Odyssey Explorer», encontra-se estacionado sobre o sítio de naufrágio do SS «Republic» desde início do Outubro. As operações no «Sussex» terão início logo após a campanha de exploração do SS «Republic».
domingo, dezembro 14, 2003
Ainda a propósito de "Master and Commander: the Far Side of the World"...
Para quem gostou de ver e ouvir o capitão Aubrey ao largo da costa do Brasil bordo do HMS «Surprise» fazer-se entender em português aceitável... numa adaptação genuinamente bem conseguida de um famoso clássico literário inglês e reconstituição fascinante da guerra naval na época napoleónica, visitem-se algumas curiosidades históricas.
Relíquias da Vitória
Comece-se, por exemplo, por uma relíquia naval, a única vela de navio original sobrevivente da batalha de Trafalgar (1805). Medindo 25 por 16,5 metros, trata-se, mais precisamente, da vela de gávea do mastro traquete do HMS «Victory», navio de linha que liderou o ataque inglês (a bordo do qual o Almirante Lord Nelson sofreu o ferimento fatal que o vitimou), actualmente submetida a rigoroso tratamento de conservação por peritos em têxteis do Centro de Conservação Têxtil da Universidade de Southampton em conjunto com o "Mary Rose Archaeological Services Limited", processo dificultado pelos 90 buracos e rasgões sofridos no violento combate naval. Espera-se a sua completa reabilitação para exposição na comemoração do bicentenário da batalha em 2005.
Notícia da BBC.
Testemunhos das Expedições Científicas
Após traçarem rumo às paradisíacas ilhas Galápagos em busca do terrível «Acheron», o Dr. Stephen Maturin (Paul Bettany) não esconde a sua ânsia de registar todas as maravilhas naturais por descobrir naquele destino exótico. Uma piscadela de olhos ao feito realizado por Charles Darwin cerca de 30 anos mais tarde. Para quem reparou na óbvia fonte de inspiração, foram as viagens científicas de Darwin a bordo do «Beagle» e a sua passagem nas Galápagos que resultaram numa importante revisão científica sobre a evolução natural das espécies animais. à disposição dos leitores de hoje, os escritos de Darwin estão disponíveis aqui.
Curiosamente, o sítio de naufrágio do «Beagle» terá sido descoberto precisamente este ano no Condado de Essex, em Inglaterra, segundo certas notícias. O navio, um pequeno brigue de 235 toneladas lançado à água em 1820, tornou-se célebre quando acolheu o cientista inglês na sua viagem à volta do Mundo entre 1831 e 1836. Perdeu-se o rasto do navio em 1870, quando, já velho, foi leiloado aparentemente para ser desmantelado. Crê-se agora que parte substancial do casco do navio tenha sido abandonado nas margens alagadiças do rio Tamisa que mantiveram a sua conservação até aos dias de hoje.
A «Royal Navy» à escala
No passado mês de Novembro, a conhecida casa de leilões Christie’s vendeu uma miniatura de navio de guerra inglês de 40 canhões (escala 1:48, medindo 89 por 20 cm) do início do séc. XVIII, extremamente bem conservado, por 663.750 libras. Uma peça rara, proveniente de uma tradição naval inglesa que pressupunha a construção destes modelos não só para estudo da construção pelo Almirantado, como para uso decorativo dos altos oficiais da «Royal Navy», sendo montados nos mesmos estaleiros onde se construíam os autênticos navios de guerra de Sua Magestade Britânica.
Relíquias da Vitória
Comece-se, por exemplo, por uma relíquia naval, a única vela de navio original sobrevivente da batalha de Trafalgar (1805). Medindo 25 por 16,5 metros, trata-se, mais precisamente, da vela de gávea do mastro traquete do HMS «Victory», navio de linha que liderou o ataque inglês (a bordo do qual o Almirante Lord Nelson sofreu o ferimento fatal que o vitimou), actualmente submetida a rigoroso tratamento de conservação por peritos em têxteis do Centro de Conservação Têxtil da Universidade de Southampton em conjunto com o "Mary Rose Archaeological Services Limited", processo dificultado pelos 90 buracos e rasgões sofridos no violento combate naval. Espera-se a sua completa reabilitação para exposição na comemoração do bicentenário da batalha em 2005.
Notícia da BBC.
Testemunhos das Expedições Científicas
Após traçarem rumo às paradisíacas ilhas Galápagos em busca do terrível «Acheron», o Dr. Stephen Maturin (Paul Bettany) não esconde a sua ânsia de registar todas as maravilhas naturais por descobrir naquele destino exótico. Uma piscadela de olhos ao feito realizado por Charles Darwin cerca de 30 anos mais tarde. Para quem reparou na óbvia fonte de inspiração, foram as viagens científicas de Darwin a bordo do «Beagle» e a sua passagem nas Galápagos que resultaram numa importante revisão científica sobre a evolução natural das espécies animais. à disposição dos leitores de hoje, os escritos de Darwin estão disponíveis aqui.
Curiosamente, o sítio de naufrágio do «Beagle» terá sido descoberto precisamente este ano no Condado de Essex, em Inglaterra, segundo certas notícias. O navio, um pequeno brigue de 235 toneladas lançado à água em 1820, tornou-se célebre quando acolheu o cientista inglês na sua viagem à volta do Mundo entre 1831 e 1836. Perdeu-se o rasto do navio em 1870, quando, já velho, foi leiloado aparentemente para ser desmantelado. Crê-se agora que parte substancial do casco do navio tenha sido abandonado nas margens alagadiças do rio Tamisa que mantiveram a sua conservação até aos dias de hoje.
A «Royal Navy» à escala
No passado mês de Novembro, a conhecida casa de leilões Christie’s vendeu uma miniatura de navio de guerra inglês de 40 canhões (escala 1:48, medindo 89 por 20 cm) do início do séc. XVIII, extremamente bem conservado, por 663.750 libras. Uma peça rara, proveniente de uma tradição naval inglesa que pressupunha a construção destes modelos não só para estudo da construção pelo Almirantado, como para uso decorativo dos altos oficiais da «Royal Navy», sendo montados nos mesmos estaleiros onde se construíam os autênticos navios de guerra de Sua Magestade Britânica.
sábado, dezembro 13, 2003
Expansão e Fábulas Marinhas
"Há também homens marinhos, que já foram vistos sair fora d’água após os índios, e nela hão morto alguns, que andavam pescando, mas não lhes comem mais que os olhos e nariz, por onde se conhece, que não foram tubarões, porque também há muitos neste mar, que comem pernas e braços, e toda a carne.
Na capitania de S. Vicente, na era de 1564, saiu uma noite um monstro marinho à praia, o qual visto de um mancebo chamado Baltazar Ferreira, filho do capitão, se foi a ele com uma espada, e levantando-se o peixe direito como um homem sobre as barbatanas do rabo lhe deu o mancebo uma estocada pela barriga, com que o derrubou, e tornando-se a levantar com a boca aberta par o tragar lhe deu um altabaixo na cabeça, com que o atordoou, e logo acudiram alguns escravos seus, que o acabaram de matar, ficando também o mancebo desmaiado, e quase morto, depois de haver tido tanto ânimo. Era este monstruoso peixe de 15 palmos de comprido, não tinha escama senão pêlo".
Assim escrevia na Bahia, Fr. Vicente do Salvador na sua História do Brasil (1627), Livro Primeiro, Cap. Décimo.
Podemos encontrar alguns escritos adicionais sobre os ipupiaras (ou ipupyaras). Encontramos, por exemplo, um outro registo sobre homens marinhos, dado pelo jesuíta Fernão Cardim na sua narrativa Tratados da Terra e Gente do Brasil (escrita entre 1583 e 1590, mas só publicado depois de muitas aventuras na Inglaterra em 1625 na compilação marítima publicada por Samuel Purchas):
"Estes homens marinhos chamam se na língua Igpupiara; têm-lhe os naturais tão grande medo que só de cuidarem nele morrem muitos, e nenhum que o vê escapa; alguns morreram já e perguntando-lhes a causa, diziam que tinham visto este monstro; parecem-se com homens propriamente de boa estatura, mas têm os olhos muito encovados. As fêmeas parecem mulheres, têm cabelos compridos, e são formosas; acham-se estes monstros nas barras dos rios doces. Em Jagoarigipe sete ou oito léguas da Bahia se têm achado muito; no ano de oitenta e dois indo um Índio pescar, foi perseguido de um, e acolhendo-se em sua jangada o contou ao senhor; o senhor para animar o Índio quer ir ver o monstro, e estando descuidado com uma mão fora da canoa, pegou
dele, e o levou sem mais parecer, e no mesmo ano morreu outro Índio de Francisco Lourenço Caiero. Em Porto Seguro se vêem alguns, e já têm morto alguns Índios. O modo que têm para matar é: abraçam-se com a pessoa tão fortemente beijando-a e apertando-a consigo que a deixam feita toda em pedaços, ficando inteira, e como a sentem morta, dão alguns gemidos como de sentimento e, largando-a, fogem; e se levam alguns comem-lhe somente os olhos, narizes e a ponta dos dedos dos pés e das mãos e os genitais, e assim os acham de ordinário pelas praias com estas coisas menos."
Novas Terras, Novos Mares, Novas Criaturas
O Novo Mundo em nada ficava a dever ao idealizado Éden bíblico, possuía luz natural gloriosa, matas exuberantes, águas abundantes e, principalmente, uma excitante população nativa, "de corpos grandes e robustos, bem dispostos e proporcionados" (Américo Vespúcio). O fascínio provocado pelas terras americanas e pelos índios que aqui habitavam se alastrou pela Europa rapidamente, com o auxílio nada desprezível da imprensa, criada por Gutemberg em 1454. A carta Mundus Novus , de Vespúcio, conheceu, só entre 1503 e 1512 (ano da morte do autor), 13 edições latinas, dez alemãs e inúmeras outras na Itália, França e Holanda. O homem cujo nome foi dado a todo um continente (América), não poupou a propaganda: "Todas as árvores são odoríferas e produzem gomas ou óleos (...) cujas propriedades todas, se fossem conhecidas, não duvido que andaríamos todos sãos. E por certo que se o paraíso terreno existe em alguma parte da terra, creio que não deve ser longe destes países".
Logo se difundiram inúmeras fantasias. Uma das mais comuns falava da longevidade dos índios, que viveriam até 150 anos. Outra dava conta de gigantes com 16 palmos de altura e selvagens com "duas ordens de dentes em cima e em baixo" ou "pés às avessas". Os viajantes, como os franceses André Thevet (Singularidades da França Antárctica, 1558) e Jean de Léry (Viagem à Terra do Brasil, 1578), eram criativos: segundo eles, bichos que se alimentavam de ar, homens marinhos e com cabeça de cão também vagueavam pelas novas terras. As suas descrições provocaram tal polémica que a Igreja enviou um grupo de teólogos examinar a questão, como nos informam as Notícias antecedentes, curiosas e necessárias das cousas do Brasil, do padre Simão de Vasconcelos, reitor dos colégios jesuíticos da Bahia e do Rio de Janeiro (Vasconcelos publicou o seu livro em 1663, mas sem o capítulo que detalha essa investigação, que a censura eclesiástica considerou excessivo).
O Brasil, como as outras terras do maravilhoso Mundus Novus, era uma tela onde se projectava a imaginação do Velho Mundo, ainda contaminada pelos bestiários medievais.
O Regresso dos Homens Marinhos?
Já no séc. XIX, Inácio Vilhena Barbosa, no 3.º volume de As Cidades e Villas da Monarchia Portugueza que teem Brasão d'Armas (Lisboa, 1862) descreve sucintamente uma "fábula popular de antiga origem, e que tres escriptores do seculo passado ainda repetiram cheios de infantil credulidade, conta que junto áquelle penedo appareciam ás vezes homens marinhos, que viviam como peixes no seio do oceano. Um d'estes escriptores refere o caso, não só como tradição, mas tambem pelo testemunho ocular de um frade, seu conhecido, que lhe assegurou ter visto ali um d'esses monstros «com meio corpo fora d'agua, da feição de um homem muito branco, e bem figurado, o qual, olhando para todas as partes, e sacoudindo a cabeça, que tinha povoada de grandes cabellos de uma côr verde mar, se sumiu outra vez nas ondas, mergulhando-se n'ellas como o costumam fazer os nadadores".
Na capitania de S. Vicente, na era de 1564, saiu uma noite um monstro marinho à praia, o qual visto de um mancebo chamado Baltazar Ferreira, filho do capitão, se foi a ele com uma espada, e levantando-se o peixe direito como um homem sobre as barbatanas do rabo lhe deu o mancebo uma estocada pela barriga, com que o derrubou, e tornando-se a levantar com a boca aberta par o tragar lhe deu um altabaixo na cabeça, com que o atordoou, e logo acudiram alguns escravos seus, que o acabaram de matar, ficando também o mancebo desmaiado, e quase morto, depois de haver tido tanto ânimo. Era este monstruoso peixe de 15 palmos de comprido, não tinha escama senão pêlo".
Assim escrevia na Bahia, Fr. Vicente do Salvador na sua História do Brasil (1627), Livro Primeiro, Cap. Décimo.
Podemos encontrar alguns escritos adicionais sobre os ipupiaras (ou ipupyaras). Encontramos, por exemplo, um outro registo sobre homens marinhos, dado pelo jesuíta Fernão Cardim na sua narrativa Tratados da Terra e Gente do Brasil (escrita entre 1583 e 1590, mas só publicado depois de muitas aventuras na Inglaterra em 1625 na compilação marítima publicada por Samuel Purchas):
"Estes homens marinhos chamam se na língua Igpupiara; têm-lhe os naturais tão grande medo que só de cuidarem nele morrem muitos, e nenhum que o vê escapa; alguns morreram já e perguntando-lhes a causa, diziam que tinham visto este monstro; parecem-se com homens propriamente de boa estatura, mas têm os olhos muito encovados. As fêmeas parecem mulheres, têm cabelos compridos, e são formosas; acham-se estes monstros nas barras dos rios doces. Em Jagoarigipe sete ou oito léguas da Bahia se têm achado muito; no ano de oitenta e dois indo um Índio pescar, foi perseguido de um, e acolhendo-se em sua jangada o contou ao senhor; o senhor para animar o Índio quer ir ver o monstro, e estando descuidado com uma mão fora da canoa, pegou
dele, e o levou sem mais parecer, e no mesmo ano morreu outro Índio de Francisco Lourenço Caiero. Em Porto Seguro se vêem alguns, e já têm morto alguns Índios. O modo que têm para matar é: abraçam-se com a pessoa tão fortemente beijando-a e apertando-a consigo que a deixam feita toda em pedaços, ficando inteira, e como a sentem morta, dão alguns gemidos como de sentimento e, largando-a, fogem; e se levam alguns comem-lhe somente os olhos, narizes e a ponta dos dedos dos pés e das mãos e os genitais, e assim os acham de ordinário pelas praias com estas coisas menos."
Novas Terras, Novos Mares, Novas Criaturas
O Novo Mundo em nada ficava a dever ao idealizado Éden bíblico, possuía luz natural gloriosa, matas exuberantes, águas abundantes e, principalmente, uma excitante população nativa, "de corpos grandes e robustos, bem dispostos e proporcionados" (Américo Vespúcio). O fascínio provocado pelas terras americanas e pelos índios que aqui habitavam se alastrou pela Europa rapidamente, com o auxílio nada desprezível da imprensa, criada por Gutemberg em 1454. A carta Mundus Novus , de Vespúcio, conheceu, só entre 1503 e 1512 (ano da morte do autor), 13 edições latinas, dez alemãs e inúmeras outras na Itália, França e Holanda. O homem cujo nome foi dado a todo um continente (América), não poupou a propaganda: "Todas as árvores são odoríferas e produzem gomas ou óleos (...) cujas propriedades todas, se fossem conhecidas, não duvido que andaríamos todos sãos. E por certo que se o paraíso terreno existe em alguma parte da terra, creio que não deve ser longe destes países".
Logo se difundiram inúmeras fantasias. Uma das mais comuns falava da longevidade dos índios, que viveriam até 150 anos. Outra dava conta de gigantes com 16 palmos de altura e selvagens com "duas ordens de dentes em cima e em baixo" ou "pés às avessas". Os viajantes, como os franceses André Thevet (Singularidades da França Antárctica, 1558) e Jean de Léry (Viagem à Terra do Brasil, 1578), eram criativos: segundo eles, bichos que se alimentavam de ar, homens marinhos e com cabeça de cão também vagueavam pelas novas terras. As suas descrições provocaram tal polémica que a Igreja enviou um grupo de teólogos examinar a questão, como nos informam as Notícias antecedentes, curiosas e necessárias das cousas do Brasil, do padre Simão de Vasconcelos, reitor dos colégios jesuíticos da Bahia e do Rio de Janeiro (Vasconcelos publicou o seu livro em 1663, mas sem o capítulo que detalha essa investigação, que a censura eclesiástica considerou excessivo).
O Brasil, como as outras terras do maravilhoso Mundus Novus, era uma tela onde se projectava a imaginação do Velho Mundo, ainda contaminada pelos bestiários medievais.
O Regresso dos Homens Marinhos?
Já no séc. XIX, Inácio Vilhena Barbosa, no 3.º volume de As Cidades e Villas da Monarchia Portugueza que teem Brasão d'Armas (Lisboa, 1862) descreve sucintamente uma "fábula popular de antiga origem, e que tres escriptores do seculo passado ainda repetiram cheios de infantil credulidade, conta que junto áquelle penedo appareciam ás vezes homens marinhos, que viviam como peixes no seio do oceano. Um d'estes escriptores refere o caso, não só como tradição, mas tambem pelo testemunho ocular de um frade, seu conhecido, que lhe assegurou ter visto ali um d'esses monstros «com meio corpo fora d'agua, da feição de um homem muito branco, e bem figurado, o qual, olhando para todas as partes, e sacoudindo a cabeça, que tinha povoada de grandes cabellos de uma côr verde mar, se sumiu outra vez nas ondas, mergulhando-se n'ellas como o costumam fazer os nadadores".
sexta-feira, dezembro 12, 2003
Naufrágio & Criaturas Marinhas
"Trabalhou-se todo o dia e deixando vigias, descansámos e na manhã seguinte, que se contavam sete de Agosto, ainda mal se divisava a luz quando vimos sair das águas uma mulher marinha e com tanta ligeireza entrou na terra e subiu ao monte que não tiveram todos os companheiros o gosto de a verem. Tinha todas as perfeições até à cinta que se discorrem na mais formosa e somente a desfeavam as grandes orelhas que tinha, pois lhe subiam à distância de mais de meio palmo por cima da cabeça. Da cinta para baixo toda estava coberta de escamas e os pés eram do feitio de cabra, com barbatanas pelas pernas. Tanto que se viu no monte, pressentindo ser vista, deu tais berros que estremecia a Ilha pelo retombo dos ecos e saíram tantos animais e de tão diversas castas que nos causou muito medo. Arrojou-se finalmente ao mar pela outra parte com tal ímpeto que sentimos nas águas a sua veemência. Todos se assustaram menos eu, pois já tinha visto outra no Cabo de Gué e tinha perdido o medo com outras semelhantes aparições; e me lembro que junto a Tenerife vi um homem marinho de tão horrendo feitio que parecia o mesmo Demónio. Tinha somente a aparência de homem na cara; na cabeça não tinha cabelos mas uma armação, como de carneiro, revirada com duas voltas; as orelhas eram maiores que as de um burro; a cor era parda, o nariz com quatro ventas, um só olho no meio da testa, a boca rasgada de orelha a orelha e duas ordens de dentes; as mãos como de bugio, os pés como de boi e o corpo coberto de escamas mais duras que conchas. Uma tempestade o lançou em terra e tais bramidos deu que entre eles expirou e para memória se mandou copiar a sua forma e se conserva na Casa da Cidade daquela Ilha".
Um Português, uma ilha imaginária, um naufrágio, uma visão (nada mais natural...)
O episódio, decorrido numa ilha imaginária localizada algures entre o arquipélago de Cabo Verde e a Costa da Guiné, permaneceu escondido entre os milhares de páginas dedicados à história trágico-marítima lusitana, terá sido redigido entre 1693 e 1699 pelo Mestre do navio, Francisco Corrêa, que intitulou o seu texto de Relação do Sucesso que teve o Patacho chamado Nossa Senhora da Candelária, da Ilha da Madeira, o qual vindo da Costa da Guiné, no ano de 1693, uma rigorosa tempestade o fez varar na Ilha incógnita, s.d.
Um Português, uma ilha imaginária, um naufrágio, uma visão (nada mais natural...)
O episódio, decorrido numa ilha imaginária localizada algures entre o arquipélago de Cabo Verde e a Costa da Guiné, permaneceu escondido entre os milhares de páginas dedicados à história trágico-marítima lusitana, terá sido redigido entre 1693 e 1699 pelo Mestre do navio, Francisco Corrêa, que intitulou o seu texto de Relação do Sucesso que teve o Patacho chamado Nossa Senhora da Candelária, da Ilha da Madeira, o qual vindo da Costa da Guiné, no ano de 1693, uma rigorosa tempestade o fez varar na Ilha incógnita, s.d.
quinta-feira, dezembro 11, 2003
Upupiara: "o que vive no fundo das águas"
"Não há dúvida senão que se encontram na Baía e nos recôncavos dela muitos homens marinhos a que os índios chamam pela sua língua «upupiara», os quais andam pelo rio da água doce pelo tempo do Verão onde fazem muito dano aos índios pescadores e mariscadores que andam em jangadas onde os tomam e aos que andam pela borda da água metidos nela, a uns e outros apanham e metem-nos debaixo de água onde os afogam, os quais saem à terra com a maré vazia afogados e mordidos na boca, narizes e na sua natura e dizem outros índios pescadores que viram tomar a estes mortos, que viram sobre água uma cabeça de homem lançar um braço fora dela e levar o morto e os que isto viram se acolheram fugindo à terra assombrados, do que ficaram tão atemorizados que não quiseram tornar a pescar senão daí a muitos dias, o que também aconteceu a muitos pretos de Guiné;
os quais fantasmas ou homens marinhos mataram por vezes cinco homens índios e já aconteceu tomar um monstro destes dois índios pescadores de uma jangada e levar um e salvar-se o outro tão assombrado, que esteve para morrer e alguns morrem disto; e um mestre do açúcar do meu engenho afirmou que olhando da janela do engenho que está sobre o rio e de que gritavam umas negras uma noite que estavam lavando umas formas de açúcar e que viu um vulto maior que um homem à borda da água que se lançou logo nela, ao qual mestre de açúcar as negras disseram que aquele fantasma vinha para pegar nelas e que aquele era o homem marinho, as quais estiveram assombradas muitos dias; e destes acontecimentos acontecem muitos no Verão, que no Inverno não falta negro algum".
Homens Marinhos em Terras do Brasil
O texto pertence à obra "Notícias do Brasil: Descrição Verdadeira da Costa Daquele Estado que Pertence à Coroa do Reino de Portugal, Sítio da Baía de Todos-os-Santos" , escrita na década de 1580 por Gabriel Soares de Sousa (1540?-1591), senhor de engenho de açúcar na Baía explorador do sertão baiano, e foi por este apresentada a Filipe I de Portugal (Filipe II de Espanha). Trata-se do Capítulo CXXVII, "Que trata dos homens marinhos".
Este é o mais completo texto descritivo da fauna e flora da área do actual Estado da Baía, assim como dos usos e costumes das inúmeras populações indígenas que aí habitavam. A curiosidade do autor levou-o a registar estes rumores sobre os «upupiara», perigosas criaturas marinhas semi-humanas. Sousa chama-lhes "fantasmas" e relata vários casos de raptos por eles cometidos e o pasmo que ficava em quem os «vira», bem como o medo que se apossava de todos quando de tais seres imaginários se falava.
É certo, porém, que Gabriel Soares de Sousa não é o primeiro autor a prestar atenção aos «upupiara»: num capítulo da sua História da Província de Santa Cruz , publicada em 1576, o cronista Pêro de Magalhães Gândavo ocupa-se do «monstro marinho que se matou na capitania de São Vicente, ano 1564», que aliás chegou a ser representado em desenho.
os quais fantasmas ou homens marinhos mataram por vezes cinco homens índios e já aconteceu tomar um monstro destes dois índios pescadores de uma jangada e levar um e salvar-se o outro tão assombrado, que esteve para morrer e alguns morrem disto; e um mestre do açúcar do meu engenho afirmou que olhando da janela do engenho que está sobre o rio e de que gritavam umas negras uma noite que estavam lavando umas formas de açúcar e que viu um vulto maior que um homem à borda da água que se lançou logo nela, ao qual mestre de açúcar as negras disseram que aquele fantasma vinha para pegar nelas e que aquele era o homem marinho, as quais estiveram assombradas muitos dias; e destes acontecimentos acontecem muitos no Verão, que no Inverno não falta negro algum".
Homens Marinhos em Terras do Brasil
O texto pertence à obra "Notícias do Brasil: Descrição Verdadeira da Costa Daquele Estado que Pertence à Coroa do Reino de Portugal, Sítio da Baía de Todos-os-Santos" , escrita na década de 1580 por Gabriel Soares de Sousa (1540?-1591), senhor de engenho de açúcar na Baía explorador do sertão baiano, e foi por este apresentada a Filipe I de Portugal (Filipe II de Espanha). Trata-se do Capítulo CXXVII, "Que trata dos homens marinhos".
Este é o mais completo texto descritivo da fauna e flora da área do actual Estado da Baía, assim como dos usos e costumes das inúmeras populações indígenas que aí habitavam. A curiosidade do autor levou-o a registar estes rumores sobre os «upupiara», perigosas criaturas marinhas semi-humanas. Sousa chama-lhes "fantasmas" e relata vários casos de raptos por eles cometidos e o pasmo que ficava em quem os «vira», bem como o medo que se apossava de todos quando de tais seres imaginários se falava.
É certo, porém, que Gabriel Soares de Sousa não é o primeiro autor a prestar atenção aos «upupiara»: num capítulo da sua História da Província de Santa Cruz , publicada em 1576, o cronista Pêro de Magalhães Gândavo ocupa-se do «monstro marinho que se matou na capitania de São Vicente, ano 1564», que aliás chegou a ser representado em desenho.
quarta-feira, dezembro 10, 2003
Actualizações históricas e arqueológicas
Depois de um longo e delicioso fim-de-semana na histórica vila de Melgaço, o Marítimo regressa à sua faina virtual.
Ficam os leitores a saber de uma conferência intitulada "As Origens de Setúbal".
Tendo como ponto de partida a história da freguesia de Santa Maria da Graça, o núcleo mais antigo da cidade de Setúbal, a conferência será proferida pelo Arqueólogo Carlos Tavares da Silva, na próxima sexta-feira, dia 12 de Novembro, pelas 21,30 horas, no Museu de Arqueologia e Etnografia do Distrito de Setúbal (MAEDS).
Embora o Museu ainda não disponha de um "site", podem consultar-se aqui informações sobre o património arqueológico local.
O conferencista abordará as origens de Setúbal, que remontam ao século VIII antes de Cristo, período em que a foz do Sado se envolveu no comércio com o mundo fenício, e apresentará as grandes etapas da evolução do povoamento do que é hoje o Centro Histórico de Setúbal.
Esta conferência, na qual todos os interessados estão convidados a participar, integra-se nas Comemorações dos 755 anos da freguesia de Santa Maria da Graça.
Aqui ficam os contactos, para mais informações:
MAEDS – Av. Luisa Todi, 162, 2900-451 SETÚBAL
Telfs. 265239365 / 265534029, Fax 265527678
Ficam os leitores a saber de uma conferência intitulada "As Origens de Setúbal".
Tendo como ponto de partida a história da freguesia de Santa Maria da Graça, o núcleo mais antigo da cidade de Setúbal, a conferência será proferida pelo Arqueólogo Carlos Tavares da Silva, na próxima sexta-feira, dia 12 de Novembro, pelas 21,30 horas, no Museu de Arqueologia e Etnografia do Distrito de Setúbal (MAEDS).
Embora o Museu ainda não disponha de um "site", podem consultar-se aqui informações sobre o património arqueológico local.
O conferencista abordará as origens de Setúbal, que remontam ao século VIII antes de Cristo, período em que a foz do Sado se envolveu no comércio com o mundo fenício, e apresentará as grandes etapas da evolução do povoamento do que é hoje o Centro Histórico de Setúbal.
Esta conferência, na qual todos os interessados estão convidados a participar, integra-se nas Comemorações dos 755 anos da freguesia de Santa Maria da Graça.
Aqui ficam os contactos, para mais informações:
MAEDS – Av. Luisa Todi, 162, 2900-451 SETÚBAL
Telfs. 265239365 / 265534029, Fax 265527678
sexta-feira, dezembro 05, 2003
Possível navio de Colombo descoberto no Panamá
No passado mês de Novembro, surgiram notícias sobre um naufrágio no Panamá que alguns investigadores identificam como sendo «La Vizcaina», um dos navios abandonados por Cristóvão Colombo na sua quarta e derradeira viagem ao Novo Mundo, em 1503-1504.
Segundo Carlos Fitzgerald, Director Nacional do Património Cultural do Instituto Nacional de Cultura do Panamá (INAC), aguarda-se em breve um acordo de cooperação para investigação futura, celebrado entre o Instituto de Arqueologia Náutica (INA) da Universidade do Texas A&M e o Marine Investigations of the Isthmus (IMDI), grupo privado que recolheu os primeiros artefactos do naufrágio em 2001. Este acordo possibilitará o início de investigação arqueológica para analisar aquele que é um dos mais antigos naufrágios descobertos no Novo mundo.
História rocambolesca
O naufrágio, descoberto em 1998 em Playa Damas, próximo de Nombre de Dios, ao largo da costa caribenha do Panamá em apenas 6 metros de profundidade pelo mergulhador e historiador amador norte-americano Warren White, tem suscitado o interesse de vários grupos. Um dos primeiros foi o IMDI, uma companhia de caça ao tesouro dirigida pelo próprio Warren White, Nilda Vázquez e um grupo de investidores e técnicos.
Desde então, White afastou-se do IMDI e tem denunciado a ameaça que pende sobre o naufrágio devido à intenção do grupo para retirar mais artefactos deste navio. Sabendo que a própria Nilda Vázquez admite a falta de conhecimento e metedologia arqueólogica do IMDI, de maneira a proceder a uma escavação em regra, foi chamado a intervir o INA, instituto reputado mundialmente possuidor das credenciais arqueológicas necessárias e negociou-se apoio financeiro para as campanhas científicas, prestado pela grupo de "media" alemão Der Spiegel.
Um Português no Panamá
As negociações com o INAC sobre a escavação integral do sítio de naufrágio estão agora na sua fase final. Embora o director Nacional do Património tenha informado que o IMDI não possui direitos legais para exploração do naufrágio ou remoção de mais arfactos, o português Filipe Castro (dirigiu as escavações da nau da Índia «Nossa Senhora dos Mártires» na barra do Tejo entre 1996 e 2000), professor assistente no INA e director de projecto do naufrágio de Playa Damas apresentou recentemente uma proposta formal para colaboração com o director do IMDI Ernesto Cordovez (filho de Nilda Vázquez), para rápida resolução da questão. O acordo final evitará o confronto legal entre a Direcção do Centro Nacional de Cultura e o grupo IMDI, que ameaçou levar o caso a tribunal, caso não lhe seja permitido prosseguir a sua actividade no naufrágio.
Um naufrágio importante a estudar
Provas factuais, incluindo datações por Carbono 14 e dendrocronologia (análise dos aneis de crescimento nas peças de madeira) realizadas pela Academia das Ciências de Heidelberg sugerem uma concordância cronológica entre a época em que o navio foi construído e a sua possível utilização na quarta armada de Colombo. De qualquer modo, sendo comprovadamente contemporâneo da «Vizcaina» de Colombo, trata-se sem dúvida de um navio de finais do séc. XV a inícios do séc. XVI, tornando-se por isso um raro exemplar para o estudo directo dos navios da Expansão e Descobrimentos ibéricos. O Dr. Donald Keith, director do grupo de arqueologia náutica "Ships of Discovery", após uma inspecção preliminar da artilharia, cerâmica e madeiras recuperadas do naufrágio, pensa não se tratar do próprio Vizcaína, mas concorda com a importância da pesquisa a efectuar.
O naufrágio de Playa Damas foi já declarado Património Nacional pelo Governo do Panamá, de acordo, com a legislação aprovada em Agosto deste ano, baseada na Convenção da UNESCO para o Património Submerso, em que se declaram todos os sítios de naufrágios históricos como Património Nacional.
A recuperação de artefactos pelo grupo privado IMDI iniciou-se em 2001e e foi documentada em video (disponível no "site" do "Archaeology Channel"). No entanto, Fitzgerald declarou que o Governo do Panamá nunca concedeu permissão escrita ao grupo IMDI para proceder a escavações ou recuperações no sítio do naufrágio, tendo apenas acordado a remoção de uma série específica de objectos mais valiosos que poderiam vir a ser alvo de roubo. Este alegado mal-entendido relativamente ao acordo entre as duas partes chegou a estar na origem de um diferendo entre o grupo IMDI e o Instituto Nacional de Cultura do Panamá, instituição governamental responsável pelo património histórico e arqueológico.
Espera-se que o acordo para o estudo científico do naufrágio de Playa Damas estabeleça um precedente na gestão do património cultural do Panamá, de modo a beneficiar a história local e enriquecer o nosso conhecimento sobre uma das fases pioneiras da colonização do Novo Mundo, evitando a sua destruição às mãos de empresas de caça ao tesouro cuja única finalidade se reduz a produzir lucro para um punhado de investidores.
As Naus voltam a Portugal
Aproveitamos esta ocasião para informar que o Dr. Filipe Vieira de Castro estará este mês em Lisboa para o lançamento do seu livro A Nau de Portugal: Os Navios da Conquista do Império do Oriente, 1489-1650 , publicado pela Editora Prefácio no próximo dia 18 de Dezembro, às 18:00 horas, no Clube Militar Naval, em Lisboa (Av. Defensores de Chaves, n.º 44).
Estão convidados todos os marítimos com gosto pela história e pelos mares de outrora.
Segundo Carlos Fitzgerald, Director Nacional do Património Cultural do Instituto Nacional de Cultura do Panamá (INAC), aguarda-se em breve um acordo de cooperação para investigação futura, celebrado entre o Instituto de Arqueologia Náutica (INA) da Universidade do Texas A&M e o Marine Investigations of the Isthmus (IMDI), grupo privado que recolheu os primeiros artefactos do naufrágio em 2001. Este acordo possibilitará o início de investigação arqueológica para analisar aquele que é um dos mais antigos naufrágios descobertos no Novo mundo.
História rocambolesca
O naufrágio, descoberto em 1998 em Playa Damas, próximo de Nombre de Dios, ao largo da costa caribenha do Panamá em apenas 6 metros de profundidade pelo mergulhador e historiador amador norte-americano Warren White, tem suscitado o interesse de vários grupos. Um dos primeiros foi o IMDI, uma companhia de caça ao tesouro dirigida pelo próprio Warren White, Nilda Vázquez e um grupo de investidores e técnicos.
Desde então, White afastou-se do IMDI e tem denunciado a ameaça que pende sobre o naufrágio devido à intenção do grupo para retirar mais artefactos deste navio. Sabendo que a própria Nilda Vázquez admite a falta de conhecimento e metedologia arqueólogica do IMDI, de maneira a proceder a uma escavação em regra, foi chamado a intervir o INA, instituto reputado mundialmente possuidor das credenciais arqueológicas necessárias e negociou-se apoio financeiro para as campanhas científicas, prestado pela grupo de "media" alemão Der Spiegel.
Um Português no Panamá
As negociações com o INAC sobre a escavação integral do sítio de naufrágio estão agora na sua fase final. Embora o director Nacional do Património tenha informado que o IMDI não possui direitos legais para exploração do naufrágio ou remoção de mais arfactos, o português Filipe Castro (dirigiu as escavações da nau da Índia «Nossa Senhora dos Mártires» na barra do Tejo entre 1996 e 2000), professor assistente no INA e director de projecto do naufrágio de Playa Damas apresentou recentemente uma proposta formal para colaboração com o director do IMDI Ernesto Cordovez (filho de Nilda Vázquez), para rápida resolução da questão. O acordo final evitará o confronto legal entre a Direcção do Centro Nacional de Cultura e o grupo IMDI, que ameaçou levar o caso a tribunal, caso não lhe seja permitido prosseguir a sua actividade no naufrágio.
Um naufrágio importante a estudar
Provas factuais, incluindo datações por Carbono 14 e dendrocronologia (análise dos aneis de crescimento nas peças de madeira) realizadas pela Academia das Ciências de Heidelberg sugerem uma concordância cronológica entre a época em que o navio foi construído e a sua possível utilização na quarta armada de Colombo. De qualquer modo, sendo comprovadamente contemporâneo da «Vizcaina» de Colombo, trata-se sem dúvida de um navio de finais do séc. XV a inícios do séc. XVI, tornando-se por isso um raro exemplar para o estudo directo dos navios da Expansão e Descobrimentos ibéricos. O Dr. Donald Keith, director do grupo de arqueologia náutica "Ships of Discovery", após uma inspecção preliminar da artilharia, cerâmica e madeiras recuperadas do naufrágio, pensa não se tratar do próprio Vizcaína, mas concorda com a importância da pesquisa a efectuar.
O naufrágio de Playa Damas foi já declarado Património Nacional pelo Governo do Panamá, de acordo, com a legislação aprovada em Agosto deste ano, baseada na Convenção da UNESCO para o Património Submerso, em que se declaram todos os sítios de naufrágios históricos como Património Nacional.
A recuperação de artefactos pelo grupo privado IMDI iniciou-se em 2001e e foi documentada em video (disponível no "site" do "Archaeology Channel"). No entanto, Fitzgerald declarou que o Governo do Panamá nunca concedeu permissão escrita ao grupo IMDI para proceder a escavações ou recuperações no sítio do naufrágio, tendo apenas acordado a remoção de uma série específica de objectos mais valiosos que poderiam vir a ser alvo de roubo. Este alegado mal-entendido relativamente ao acordo entre as duas partes chegou a estar na origem de um diferendo entre o grupo IMDI e o Instituto Nacional de Cultura do Panamá, instituição governamental responsável pelo património histórico e arqueológico.
Espera-se que o acordo para o estudo científico do naufrágio de Playa Damas estabeleça um precedente na gestão do património cultural do Panamá, de modo a beneficiar a história local e enriquecer o nosso conhecimento sobre uma das fases pioneiras da colonização do Novo Mundo, evitando a sua destruição às mãos de empresas de caça ao tesouro cuja única finalidade se reduz a produzir lucro para um punhado de investidores.
As Naus voltam a Portugal
Aproveitamos esta ocasião para informar que o Dr. Filipe Vieira de Castro estará este mês em Lisboa para o lançamento do seu livro A Nau de Portugal: Os Navios da Conquista do Império do Oriente, 1489-1650 , publicado pela Editora Prefácio no próximo dia 18 de Dezembro, às 18:00 horas, no Clube Militar Naval, em Lisboa (Av. Defensores de Chaves, n.º 44).
Estão convidados todos os marítimos com gosto pela história e pelos mares de outrora.
quarta-feira, dezembro 03, 2003
Glória e Tragédia do «Hunley»
Em 1863, juntos na sua velha oficina de Nova Orleães (no Alabama), dois sócios habilidosos, James McClintock e Baxter Watson, financiados por um advogado do Louisana, Horace Lawson Hunley, finalizaram a terceira e última versão de um submarino de guerra encomendado pela Marinha da Confederação em plena Guerra Civil norte-americana.
Afundamento de um submarino de guerra pioneiro
Na noite de 17 de Fevereiro de 1864, o pequeno submarino Confederado «Hunley» , de 12 metros de comprimento e 7,5 toneladas, parte em missão furtiva destinada a romper o bloqueio naval da União ao porto de Charleston (Carolina do Sul). Num esporão à proa, transporta uma carga explosiva de 61 quilos de pólvora pronta a cravar no casco inimigo.
O ataque decorre como previsto. Esventrada pela explosão, a chalupa de guerra USS «Housatonic» afunda-se em apenas 5 minutos.
O «Hunley», embora tenha sido avistado pelas sentinelas no navio inimigo, pouco ou nada sofreu com os tiros de espingarda. No seu regresso, ainda teve tempo de fazer o sinal combinado para comunicar o sucesso e o retorno do submarino com uma lâmpada de magnésio numa das torretas, mas pouco depois mergulhou para não mais ser encontrado.
Com esta missão, o pequeno submarino entrou para a História.
O Submarino vindo das trevas
Passados 131 anos, em Maio de 1995, uma expedição financiada pelo famoso escritor norte-americano Clive Cussler através da sua Fundação NUMA (National Underwater and Marine Agency) encontrou a estrutura preservada no leito lodoso do porto de Charleston.
Cussler, autor de mais de 20 novelas marítimas baseadas em naufrágios, navegações e afundamentos, como "Deep Six" (1984), "Raise the Titanic!" (1976) e "The Sea Hunters" (1996 e 2002), entre outros, é igualmente conhecido pela sua actividade na descoberta de naufrágios célebres.
Um dos mais célebres navios malditos, o «Mary Celeste» foi encontrado à deriva ao largo dos Açores em 1872, sem vestígios da tripulação, tendo sido deixado no mar. Em Agosto de 2001, a equipa de Cussler anunciou a descoberta dos restos do «Mary Celeste» num recife próximo da ilha de Haiti, nas Caraíbas. O veleiro ainda navegou durante mais doze anos sob diferentes proprietários, até ser deliberadamente encalhada em 1885 por um capitão menos escrupuloso, decidido a ganhar fraudulentamente o dinheiro do seu seguro. No entanto, os restos do navio ficaram à vista e os peritos da companhia seguradora depressa descobriram. O capitão e o mestre foram devidamente condenados.
Curiosamente, a história misteriosa deste navio inspirou Sir Arthur Conan Doyle, o qual utilizou em "J. Habakuk Jephson's Statement" (1883) um veleiro imaginário com o nome afrancesado de «Marie Celeste»
8 esqueletos e 3000 artefactos...
...foi o resultado da investigação arqueológica no interior da estrutura ferrugenta do primeiro submarino de guerra da História.
Uma tripulação particularmente corajosa se tivermos em conta que o «Hunley» já se tinha afundado previamente, em Agosto de 1863, tendo perdido a vida 5 dos 8 tripulantes.
O Tenente George E. Dixon, comandante do «Hunley» na altura do desastre, foi identificado não só pela posição que ocupava no interior do submarino, como sobretudo por alguns objectos pessoais: um relógio de bolso em ouro e uma moeda de 20 dólares também em ouro, amolgada, relíquia que o salvou de um tiro de espingarda na batalha de Shiloh, na qual gravou a frase "My Life Preserver"
Mas a verdadeira causa do afundamento do «Hunley» permanece ainda hoje desconhecida.
A sua redescoberta em 1995 deu início a um moroso processo de 5 anos para estudo científico por parte do Instituto Smithsonian e da Universidade do Tennessee e também a sua recuperação, realizada em 2000, tendo em vista a sua exposição ao público. No entanto, a simples previsão orçamental para o futuro Museu Marítimo da Guerra Civil, avaliada em 40 milhões de dólares tem sido o principal obstáculo à conclusão do projecto.
Cuidadosamente trazido à superfície e transferido com sucesso para a unidade improvisada de conservação na Base Naval de Charleston, aguarda agora mecenas e contribuintes interessados na recuperação da relíquia naval.
Descanso Eterno
Finalmente, quase 140 anos após a conclusão da Guerra Civil, a tripulação do pequeno submersível encontrará o seu repouso final em terra numa cerimónia prevista para o mês de Abril de 2004, naquele que será o último enterramento Confederado na História dos Estados Unidos.
P.S.
Por indicação do Luís Falcão, tenho a acrescentar que existe um filme sobre este episódio marítimo, intitulado simplesmente "The Hunley". As críticas não são muito más e ao que parece a reconstituição histórica foi muito bem conseguida. Aqui fica a sugestão para as tardes de Inverno que se aproximam.
Afundamento de um submarino de guerra pioneiro
Na noite de 17 de Fevereiro de 1864, o pequeno submarino Confederado «Hunley» , de 12 metros de comprimento e 7,5 toneladas, parte em missão furtiva destinada a romper o bloqueio naval da União ao porto de Charleston (Carolina do Sul). Num esporão à proa, transporta uma carga explosiva de 61 quilos de pólvora pronta a cravar no casco inimigo.
O ataque decorre como previsto. Esventrada pela explosão, a chalupa de guerra USS «Housatonic» afunda-se em apenas 5 minutos.
O «Hunley», embora tenha sido avistado pelas sentinelas no navio inimigo, pouco ou nada sofreu com os tiros de espingarda. No seu regresso, ainda teve tempo de fazer o sinal combinado para comunicar o sucesso e o retorno do submarino com uma lâmpada de magnésio numa das torretas, mas pouco depois mergulhou para não mais ser encontrado.
Com esta missão, o pequeno submarino entrou para a História.
O Submarino vindo das trevas
Passados 131 anos, em Maio de 1995, uma expedição financiada pelo famoso escritor norte-americano Clive Cussler através da sua Fundação NUMA (National Underwater and Marine Agency) encontrou a estrutura preservada no leito lodoso do porto de Charleston.
Cussler, autor de mais de 20 novelas marítimas baseadas em naufrágios, navegações e afundamentos, como "Deep Six" (1984), "Raise the Titanic!" (1976) e "The Sea Hunters" (1996 e 2002), entre outros, é igualmente conhecido pela sua actividade na descoberta de naufrágios célebres.
Um dos mais célebres navios malditos, o «Mary Celeste» foi encontrado à deriva ao largo dos Açores em 1872, sem vestígios da tripulação, tendo sido deixado no mar. Em Agosto de 2001, a equipa de Cussler anunciou a descoberta dos restos do «Mary Celeste» num recife próximo da ilha de Haiti, nas Caraíbas. O veleiro ainda navegou durante mais doze anos sob diferentes proprietários, até ser deliberadamente encalhada em 1885 por um capitão menos escrupuloso, decidido a ganhar fraudulentamente o dinheiro do seu seguro. No entanto, os restos do navio ficaram à vista e os peritos da companhia seguradora depressa descobriram. O capitão e o mestre foram devidamente condenados.
Curiosamente, a história misteriosa deste navio inspirou Sir Arthur Conan Doyle, o qual utilizou em "J. Habakuk Jephson's Statement" (1883) um veleiro imaginário com o nome afrancesado de «Marie Celeste»
8 esqueletos e 3000 artefactos...
...foi o resultado da investigação arqueológica no interior da estrutura ferrugenta do primeiro submarino de guerra da História.
Uma tripulação particularmente corajosa se tivermos em conta que o «Hunley» já se tinha afundado previamente, em Agosto de 1863, tendo perdido a vida 5 dos 8 tripulantes.
O Tenente George E. Dixon, comandante do «Hunley» na altura do desastre, foi identificado não só pela posição que ocupava no interior do submarino, como sobretudo por alguns objectos pessoais: um relógio de bolso em ouro e uma moeda de 20 dólares também em ouro, amolgada, relíquia que o salvou de um tiro de espingarda na batalha de Shiloh, na qual gravou a frase "My Life Preserver"
Mas a verdadeira causa do afundamento do «Hunley» permanece ainda hoje desconhecida.
A sua redescoberta em 1995 deu início a um moroso processo de 5 anos para estudo científico por parte do Instituto Smithsonian e da Universidade do Tennessee e também a sua recuperação, realizada em 2000, tendo em vista a sua exposição ao público. No entanto, a simples previsão orçamental para o futuro Museu Marítimo da Guerra Civil, avaliada em 40 milhões de dólares tem sido o principal obstáculo à conclusão do projecto.
Cuidadosamente trazido à superfície e transferido com sucesso para a unidade improvisada de conservação na Base Naval de Charleston, aguarda agora mecenas e contribuintes interessados na recuperação da relíquia naval.
Descanso Eterno
Finalmente, quase 140 anos após a conclusão da Guerra Civil, a tripulação do pequeno submersível encontrará o seu repouso final em terra numa cerimónia prevista para o mês de Abril de 2004, naquele que será o último enterramento Confederado na História dos Estados Unidos.
P.S.
Por indicação do Luís Falcão, tenho a acrescentar que existe um filme sobre este episódio marítimo, intitulado simplesmente "The Hunley". As críticas não são muito más e ao que parece a reconstituição histórica foi muito bem conseguida. Aqui fica a sugestão para as tardes de Inverno que se aproximam.
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