Assim foi em tempos idos. Ainda antes dos exércitos napoleónicos invadirem Portugal, as águas portuguesas foram palco de uma das mais importantes batalhas entre as marinhas de Inglaterra e França.
No dia de São Valentim de 1797 travou-se a batalha naval de São Vicente, assim denominada devido ao cabo do mesmo nome, ao largo do qual teve lugar.
Batalha no Mar do Algarve
Cruzando as águas do Atlântico a cerca de 40 quilómetros da costa portuguesa, o Almirante Sir John Jervis, a bordo do célebre HMS «Victory» (de 100 canhões), liderava uma esquadra de 15 navios de linha e fragatas, quando recebe o aviso enviado por uma fragata portuguesa do avistamento da frota espanhola vinda das Américas, escoltada por grandes navios de linha ao largo da costa do Sudoeste algarvio, dirigindo-se a Cádiz.
Ocupadas as posições de combate e preparadas as armas, a ofensiva inglesa foi lançada, apesar de grandes contrariedades: o início do combate deu-se ainda sob um espesso manto de nevoeiro e a inferioridade numérica dos ingleses.
Assim que a frota espanhola percebeu os movimentos do inimigo, iniciou a fuga, dividindo a sua força de 30 navios em duas partes. Após a ordem de ataque proferida por Jervis, a esquadra inglesa dirigiu-se para o intervalo deixado entre as duas, tentando impedir a reunião de toda a frota espanhola e iniciar combate com apenas uma das partes.
Antecipando-se às ordens do Almirante Jervis, o jovem Comodoro Horatio Nelson, a bordo do HMS «Captain» (de 74 canhões), prevendo que a manobra não iria ser completada a tempo de evitar a junção da frota inimiga, lançou-se de imediato contra um grupo de 7 navios espanhóis, entre os quais o «Santíssima Trinidad», o maior navio de guerra da sua época, ostentando 136 canhões. A rapidez e imprevisibilidade da acção, combinada com o ímpeto das sucessivas abordagens conduzidas por Nelson, garantiu a neutralização de algumas das mais fortes unidades navais espanholas. Seguiu-se uma série de intensos combates individuais, que avariaram seriamente os navios de ambos os lados, mas a rendição de várias unidades espanholas abreviou a luta.
Ao final do dia, a esquadra recolhe a Lagos, no Algarve, trazendo consigo 4 navios espanhóis capturados. A frota espanhola sofreu perto de 3.000 baixas, enquanto que na esquadra inglesa apenas se contaram 300 mortos e nenhum navio perdido. Nelson foi armado cavaleiro e promovido a Contra-Almirante.
Quanto ao Almirante Jervis, foi-lhe concedido o título de conde de São Vicente, vindo a ser primeiro Lorde do Almirantado de 1801 a 1804, e nomeado Almirante da frota inglesa em Março de 1806. Em Agosto desse ano dirigiu uma expedição militar a Portugal, enviada com o pretexto da anunciada invasão francesa, mas que acabou por não desembarcar.
O Cabo de São Vicente já era famoso e o Conde passou a sê-lo desde então. O curioso título português entrou assim para a história da nobreza inglesa.
A batalha naval ao largo do Cabo de São Vicente marcou a ascensão daquele que viria a ser o maior Almirante inglês de todos os tempos.
Mas este triunfo foi apenas a primeira grande vitória de uma sucessão de importantes sucessos navais que culminaram na decisiva batalha de Trafalgar, no ano de 1805, a última grande ofensiva naval que consolidou o predomínio dos mares pela Inglaterra e cuja vitória final, de novo ao largo da costa ibérica custou, porém, a vida do próprio almirante Nelson. Uma manobra táctica fulgurante que pode ser seguida em animação, aqui.
Ano da Vitória e do Mar
À imagem do sucedeu em 1997 com a batalha de São Vicente, Trafalgar irá conhecer por sua vez o festejo do seu bicentenário dentro de pouco mais de um ano. Ao longo dos tempos, o feito memorável tem sido eternizado pela magnitude da sua importância, seja em grandiosa estátua na famosa coluna de Nelson em Trafalgar Square (Londres) ou na pintura romântica de um dos mestres do séc. XIX.
Mas 2005 será também o Ano do Mar em Inglaterrra, com o anunciado festival marítimo SeaBritain 2005. Adivinha-se uma grandiosa encenação marítima com regatas, reconstituições históricas e exposições, para celebração do Mar na qual os ingleses, como genuínos ilhéus, sempre contaram para a defesa e expansão do seu império.
Será de prever, de certa maneira, uma antecipação da comemoração daquele feito naval em "Master and Commander: the Far Side of the World" , novíssimo épico naval cinematográfico (já referido em "post" anterior), que, esperamos, nos transportará ao coração do conflito marítimo que opôs os grandes impérios Napoleónico e Britânico, em pleno Atlântico.
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