A propósito das nossas deambulações pelas vertentes literárias e culturais do mundo marítimo, não deixa de ser curiosa a vontade de tantos realizadores e produtores de cinema em apostar na recriação de velhos temas históricos, numa tentativa de fazer reviver clássicos de aventuras. Curiosa e reveladora, pois apenas confirma que os gostos não mudam tanto assim através dos tempos. Só que depende muito da maneira como nos são contadas. Nestas histórias de reconstituições e filmes históricos, nem mesmo os filmes ligeiros.
Tal como as "coboiadas" e os grandes épicos históricos das das décadas de 1940 e 50, o género marítimo em filme já conheceu uma época de glória, que só tem sido capaz de ser ressuscitada graças à imensa evolução da tecnologia de produção desde finais da década de 1980.
No entanto, e porque é preciso ter em conta a dificuldade de encenações históricas com um mínimo de rigor e autenticidade num país tão jovem como os Estados Unidos, o resultado habitual tem sido uma autêntica "salada" confusa de épocas históricas com pormenores improváveis, realizados quase que à maneira de contos infantis, da maneira que se pensa ser a mais atraente para a maioria do público norte-americano.
Para apenas mencionar um (mau) exemplo recente das dificuldades em fazer reviver este género cinemtográfico, Cutthroat Island (1995, de Renny Harlin), que nos tentou impingir uma história previsível contada de maneira inepta, através de uma mulher pirata (Geena Davis) a bordo do «Morning Star» (mais parece nome de pasquim) que não deixou boas recordações, sofrendo um merecido pontapé nas bilheteiras: a brincadeira custou 92 milhões de dólares e só rendeu 12 milhões...
Uma aventurinha intencionalmente simpática mas que nunca chega a entusiasmar. Bom mesmo para tardes de fim de semana com chuva.
Disney ao ataque
Mais recentemente, surgiu o tão falado Pirates of the Caribbean , Piratas das Caraíbas (2003, de Gore Verbinski) e a maldição do navio «Black Pearl», ou «Pérola Negra» (e não Maldição "da" Pérola Negra, como foi desajeitadamente traduzido), as aventuras marítimas do capitão renegado Jack Sparrow e de um humilde ferreiro para recuperarem o navio amaldiçoado e o tesouro perdido. Já todos conhecem os ingredientes do enredo. Mas nas águas cristalinas das Caraíbas, salva-se de uma história sem grande conteúdo a curiosa actuação de Johnny Depp e, claro, muitos efeitos especiais (desenvolvidos pelos eficazes flibusteiros da"Industrial Light & Magic"), para dar vida à tripulação de piratas mortos-vivos. Nestas perseguições rocambolescas e hiper-ginasticadas, os estúdios Disney são mesmo muito experientes.
Para os mais cépticos, poder-se-ia que, quando a Disney anunciou que faria um filme sobre um dos brinquedos dos seus parques de diversão, isso poderia ser visto como um atestado de esvaziamento de idéias na casa do Mickey. E talvez não se estivesse tão longe da verdade. A história anunciada passava a idéia de mais um enredo fraca e sem grandes atractivos à vista. Mas muita água passou por baixo dos navios piratas neste meio tempo e graças a Jerry Bruckheimer, um produtor já com perna de pau (chamada Pearl Harbor , 2000, de Michael Bay, definitivamente um dos piores filmes de guerra já conseguidos), mas com um olho de vidro muito atento, o vento soprou forte e a favor dos piratas das Caraíbas, que já facturaram um tesouro superior a 620 milhões de dólares. Como consequência, a produção acabou por tornar-se no grande destaque entre os "blockbusters" do verão americano deste ano.
Se bem que se trate assumidamente de um exemplo do melhor "cinema pipoca", o sucesso revelou-se precioso para os cofres da Disney. Por isso mesmo, os seus executivos prometem já uma continuação (para os cinéfilos, uma "sequela").
Pipoca com rum... quem diria que esta combinação daria certo?
O que é certo é que há já muitos anos que não se viam tantos navios a velejar pelas salas de cinema. E agora, finalmente, a preocupação de algum rigor histórico é já evidente. Falta saber da novidade/originalidade das histórias no género.
Festival de Pirataria
Mas os piratas andam mesmo "por aí".
Reunem-se publicamente numa espécie de convenção anual da pirataria, "à americana": por alguns dólares, o visitante poder-se-à vestir "à pirata", presenciar batalhas navais, participar em duelos de esgrima, assistir a um sem-número de filmes alusivos e aproveitar para velejar e mergulhar nas suas águas tropicais.
E em que outro lugar dos Estados Unidos se poderia celebrar tal evento senão na histórica e paradisíaca Key West, no Sul da Florida, antigo local de passagem das Frotas da Prata espanhola do Novo mundo para Espanha e terra de caçadores de tesouros em galeões afundados?
Venham mais essas garrafas de rum! {x];-)
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