terça-feira, março 02, 2004

O Regresso dos Vikings

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De Inglaterra vem a notícia de um dos mais importantes achados arqueológicos sobre os Vikings em terras de Sua Magestade. Segundo os arqueólogos do Museu do Yorkshire, trata-se muito provavelmente de um local de enterramento num navio Viking, o primeiro a ser descoberto em Inglaterra.

Graças a entusiastas de fim-de-semana munidos de detectores de metal, um primeiro conjunto de 130 artefactos foi posto a descoberto: uma fivela de cinto, espadas, pregos de navio e uma colecção de lingotes e moedas de prata (entre as quais um exemplar árabe cunhado em Bagdad) datadas do final do séc. IX num campo cultivado do Yorkshire (Norte de Inglaterra), próximo da margem de um rio. Prepara-se agora a escavação do local que poderá revelar vestígios de um hipotético navio Viking.

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Achados Vikings em Yorkshire, Inglaterra
Este tipo de achados é contemporâneo da prática de inumação de líderes Vikings nos seus navios de guerra (os "drakkars"), junto com com os seus tesouros e possessões pessoais que lhes seriam de utilidade no Além. Esta valiosa colecção vai enriquecer as reservas do Museu local após estudo pelos técnicos do British Museum e os seus achadores devidamente compensados por terem respeitado o património e comunicado o achado às entidades competentes. De facto, vale a pena salientar que os achadores comunicaram a descoberta através do "Portable Antiquities Scheme", uma base de registo voluntário relativa a artefactos arqueológicos achados pelos cidadãos. Uma ferramenta eficaz na preservação do património, aberto à contribuição pelo público. A base de dados, que ultrapassa os 60.000 artefactos, está disponível online.

A importância destes vestígios prende-se com um período ainda pouco conhecido em que os Vikings se estabeleceram nas terras que assolaram previamente, após as primeiras vagas de assalto às costas inglesas.

Mais pormenores nas notícias do «Guardian» e aqui (ilustrada).

O local de enterramento em navio mais antigo na Inglaterra encontra-se em Sutton Hoo, datado do século VII. Descoberto em 1938, consiste no único túmulo real Anglo-Saxão conhecido até hoje, pois muitos outros foram alvo de vandalismo e saqueadores nos séculos que se seguiram. Do navio de 30 metros de comprimento já só restava o "negativo" das formas do casco impressas naturalmente na camada de terra que o suportou. O "site" oficial oferece alguma informação complementar.



Fantasmas dos Vikings na Ibéria

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Navio viking representado na tapeçaria de Bayeux, que representa a invasão normanda de Inglaterra por Guilherme o Conquistador, séc. XI (Normandia)
Na fachada atlântica da Península Ibérica, a passagem dos guerreiros-navegadores nórdicos deixou memória muito vaga, mas sabe-se, por exemplo, que no ano de 966 uma frota de 28 navios Vikings terá sido avistada, tendo sido enfrentada por uma esquadra de galés andaluzas ao largo da costa algarvia, ao largo da ribeira de Silves. De acordo com um testemunho, vários destes navios nórdicos terão sido afundados.

Já na década de 1970 foram encontrados entre Portimão e Silves, vestígios de uma embarcação de casco trincado que entretanto terá sido escondida por fortes assoreamentos e destruída por sucessivas dragagens nas 2 décadas seguintes devidas ao desrespeito patrimonial demonstrado pelas autoridades portuárias da época.

Os hipotéticos vestígios arqueológicos de um navio viking fizeram assim uma reaparição efémera, proximo da área estudada recentemente no âmbito do Projecto Arqueológico Subaquático da foz do rio Arade (Portimão). Os estudos e relatórios preliminares estão disponíveis aqui e aqui. Embora os resultados preliminares das análises de datação e das campanhas arqueológicas iniciadas em 2002 por uma equipa internacional que reuniu arqueólogos e mergulhadores de 4 instituições: o CNANS, o Grupo de Estudos Oceânicos (GEO), a Universidade de São Paulo (Brasil) e o Institute of Nautical Archaeology (da Universidade de Texas A&M) tenham para já afastado qualquer ligação entre navios vikings e os vestígios conhecidos, valerá a pena aguardar pelo prosseguimento dos trabalhos.
Parte deste trabalho esteve recentemente em exposição no Museu Nacional de Arqueologia (como já pudemos noticiar).

Mais detalhes históricos acerca da passagem pelo Condado Portucalense dos temíveis homens do Norte aqui.



Navio de Gokstad, construído no séc. IX e descoberto em 1880 (Oslo, Noruega)

Navios como estes, movidos a vela ou a remos, tornaram-se nos meios ideais para os ataques dos temidos guerreiros do Norte. A sua configuração longilínea e a qualidade da construção robusta mas elegante permitia uma navegação rápida, de manobra ágil e furtiva, beneficiando de um calado tão reduzido que facilitava o seu encalhe nos frequentes desembarques em praias, assim como as incursões rios acima. A mestria da navegação nórdica levou os Vikings a expandirem-se para bem longe, rodeando as costas europeias até ao Mediterrâneo e para Oeste até ao continente norte-americano (cerca de 500 anos antes de Colombo).



No Tempo dos Guerreiros-Navegadores

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Hoje em dia, algumas das célebres figuras de proa que aterrorizaram as povoações costeiras da Europa durante a Idade Média encontram-se exposição em vários museus, como no Museu do Navio Viking em Roskilde (Dinamarca), junto ao local onde foram descobertos no final do séc. XIX 5 embarcações afundadas intencionalmente no séc. XI para bloquear o acesso ao porto. A partir dos dados obtidos nestes naufrágios, foram construídas 3 réplicas, cuja navegação se mostrou bem sucedida: entre 1984 e 1986 a réplica de um dos navios de carga descobertos ("Wreck 1") circumnavegou os mares do Mundo. Desde então, muitas outras réplicas têm sido construídas para testar métodos de construção e "performances" dos navios Vikings.

Também o "Viking Ship Museum" de Oslo, na Noruega, conserva os elegantes cascos dos navios naufragados de Oseberg, Gokstad e Tune, entre outros.

Actualmente, decorre uma exposição sobre a Era dos Vikings no "Smithsonian National Museum of Natural History" (Washington D.C.), acessível numa soberba visita interactiva em "Vikings: The North Atlantic Saga".

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