A Ciência Ilustrada
No século das Luzes, cientistas e estudantes viajaram pelo globo numa multiplicidade de expedições em busca de novas espécies piscícolas para catalogar. Com o progressivo aumento de novas descobertas no campo da Ictiologia, os primeiros biólogos confrontaram-se com a imensa tarefa de estabelecer e coordenar uma única grande matriz de classificação alargada capaz de albergar uma expansão contínua de espécies conhecidas.
Das compilações às sistematizações e pesquisas aprofundadas, foram-se sucedendo obras de teor cada vez mais complexo e métodos mais rigorosos. A ilustração toambém acompanhou a evolução qualitativa. Curiosamente, antes da invenção da litografia, o alto nível de detalhe nas pinturas a óleo e aguarelas perdia-se na técnica limitada de impressão em série de gravuras preparadas sobre blocos de madeira. Por isso, a mão do artista e as obras únicas mantiveram-se como instrumento indispensável, preservando todo o esplendor das espécies retratadas.
Aprecie-se por exemplo, a qualidade deste exemplar de "Chaetodon striatus" desenhado em 1754, proveniente da obra de Peter Artedi
(1705-1735), aluno de Linné fundador da taxonomia moderna (sistema universal de classificação das espécies animais) que identificou cinco Ordens de "peixes" (em que incluiu os cetáceos), dividindo-os em géneros respectivos. Ironicamente, Artedi afogou-se com apenas 30 anos num canal de Amsterdão mas, graças aos cuidados do seu Mestre e amigo Linnaeus os seus manuscritos intitulados "Bibliotheca Ichthyologica" e "Philosophia Ichthyologica" publicaram-se em 1738 sob o título "Ichthyologia sive opera omnia piscibus" (exemplar da Bibliothèque Nationale de France acessível "online"), com a biografia de Artedi. Nestes estudos fundamentais, Artedi analisou em extensa bibliografia crítica as publicações científicas que o precederam e estabeleceu as modernas definições de Ictiologia e descrições dos peixes segundo características específicas, que resultaram numa actualização metódica desta disciplina.
No século das Luzes, cientistas e estudantes viajaram pelo globo numa multiplicidade de expedições em busca de novas espécies piscícolas para catalogar. Com o progressivo aumento de novas descobertas no campo da Ictiologia, os primeiros biólogos confrontaram-se com a imensa tarefa de estabelecer e coordenar uma única grande matriz de classificação alargada capaz de albergar uma expansão contínua de espécies conhecidas.
Das compilações às sistematizações e pesquisas aprofundadas, foram-se sucedendo obras de teor cada vez mais complexo e métodos mais rigorosos. A ilustração toambém acompanhou a evolução qualitativa. Curiosamente, antes da invenção da litografia, o alto nível de detalhe nas pinturas a óleo e aguarelas perdia-se na técnica limitada de impressão em série de gravuras preparadas sobre blocos de madeira. Por isso, a mão do artista e as obras únicas mantiveram-se como instrumento indispensável, preservando todo o esplendor das espécies retratadas.
Aprecie-se por exemplo, a qualidade deste exemplar de "Chaetodon striatus" desenhado em 1754, proveniente da obra de Peter Artedi
Na Época das Luzes, a fauna marinha vestiu-se de um colorido extravagante, particularmente bem ilustrada nesta soberba segunda edição (Amsterdam, 1754) de "Poissons, Écrevisses et Crabes, de diverses couleurs et figures extraordinaires, que l'on trouve autour des Isles Moluques et sur les côtes des Terres Australes" (cuja primeira edição data de 1719) do naturalista francês Louis Renard (1678-1746), a primeira obra consagrada ao estudo dos peixes integralmente a cores. Nas suas páginas, guarda-se o registo de perto de meio milhar de espécies de peixes e crustáceos marinhos tropicais existentes nas antigas ilhas Molucas (actual Indonésia) e Austrália. Imagens obtidas do exemplar da Biblioteca da Universidade de Glasgow.
A obra de Renard é, paradoxalmente, uma das mais edições raras e das mais famosas sobre História natural, mas vai um pouco além do estrito campo científico. De facto, contém a deliciosa curiosidade de uma avaliação degustativa própria a cada espécie, incluindo uma porção de receitas breves para preparação adequada de muitos dos peixes representados, característica verdadeiramente única na historiografia zoológica.
Não está, porém, isenta de várias imprecisões científicas e algumas fantasias.
Tome-se como exemplo a gravura de uma sereia: de acordo com a respectiva legenda, este ser fantástico foi recolhido nas costas do Bornéo, na província de Amboino e media 1,5 metros. Depois de capturado, terá sobrevivido junto à costa num tanque de água durante 4 dias e 7 horas, soltando ocasionalmente guinchos semelhantes aos de um rato. Tendo-se recusado a comer (apesar de lhe darem peixes pequenos, moluscos e caranguejos), acabou por morrer de inanição. O artista confessa que, após a morte da sereia, lhe levantou as barbatanas anteriores e posteriores, revelando as suas semelhanças com as de uma mulher. Segundo o autor, outros testemunhos citados confirmaram-lhe a existência de sereias.
Este Imperador ou Peixe-Anjo Imperial ("Pomacanthus Imperator"), conhecido no séc. XVIII por «Imperador do Japão», exibindo as magníficas listas azuis e douradas de um exemplar adulto (as dos juvenis são em preto e branco) provém de um magnífico compêndio ilustrado, "Ichtyologie ou Histoire Naturelle Generale et Particulière, des Poissons" (1785-1797). O seu autor, o médico alemão Marcus Eliezar Bloch (1723-1799), realizou estas 432 ilustrações realçando-as a ouro e prata de modo a simular o brilho natural das escamas de diversas espécies. Graças ao apoio de grandes mecenas, entre os quais se contou o rei da Prússia Frederico o Grande, o autor conseguiu adquirir inúmeros espécimens provenientes dos continentes europeu e americano e do Extremo-Oriente. Bloch introduziu 19 novos nomes genéricos de espécies de peixes, muitos dos quais se mantêm ainda hoje.
Curiosamente, Bloch só se dedicou ao estudo dos peixes aos 57 anos, tendo-se decidido a registar descrições e ilustrações exaustivas de todas as espécies do seu conhecimento. A sua primeira grande pesquisa centrou-se na fauna aquática alemã, mais próxima de si. Já o seu estudo alargado de espécies de mares distantes, surgidas pela primeira vez no "Allgemeine Naturgeschichte der Fische" (1782-1795), baseou-se em grande parte no trabalho de outros autores, apresentando por isso muitas incorrecções. No entanto, este estudo permaneceu uma referência no campo da Ictiologia por mais de 50 anos. A sua "Ichthyologia" (como ficou conhecida) foi dada à estampa como simples série de ilustrações em vários volumes, e após a sua morte, o seu colega Johann Schneider publicou o sistema taxonómico com o nome de "M. E. Blochii Systemae Ichthyologiae", no qual descreve nada menos de 1.519 espécies de peixes.
A propósito, visite-se aqui uma galeria com algumas ilustrações da obra de Bloch. E outras ilustrações na Biblioteca da Universidade de Heidelberg.
Eis uma das espécies (a lembrar outra por nós "postada" há semanas) observadas na Austrália pelo austríaco Ferdinand Lucas Bauer (1760-1826) entre 1801 e 1803.
O "Marítimo" deixa a sugestão aos seus leitores para uma visita virtual em Animação 3D ao HMS «Investigator» aqui e uma fantástica galeria de fotos do álbum de peixes Gradientes e Texturas - Ilustração Científica e Design de Comunicação é a primeira empresa portuguesa especialmente vocacionada para prestação de serviços e formação na área da Comunicação de natureza científica e ilustração de História Natural) e Pedro Salgado, cujo trabalho é internacionalmente reconhecido e tem promovido no nosso país diversos cursos de Ilustração Científica. Mais um pretexto para visitar o Oceanário de Lisboa, onde se podem apreciar diversas ilustrações suas nos paineis explicativos. Para os mais curiosos, fica a entrevista com Pedro Salgado sobre a sua actividade.
Ontem como hoje, a ilustração da Ciência permanece um trabalho de artesão, paciente e dedicado. Uma Arte com método e história...